III CICLO DE
ESTUDOS LINGÜÍSTICOS E ESTUDOS LITERÁRIOS
De Sentidos dos Discursos Cristalizados na Educação para o Trânsito
Marcus Aurélio Fernando Moreira (FL/UFG)
marmo44aurelio@yahoo.com.br
Palavras-chave: trânsito, Análise do Discurso.
INTRODUÇÃO
Há muito que o tema Educação para o Trânsito tem nos chamado a atenção pela complexidade de tarefas reservadas a que se proponha a estudá-las.
Pelas nossas experiências atuando como instrutor teórico e prático de Centro de Formação de Condutores (C.F.C.), notamos que os C.F.C.’s carecem seriamente de diversas contribuições de modo a dar sentido ao que, em lei, essas instituições se propõem a fazer.
Acreditamos que de todo projeto realizado no ventre de uma universidade – principalmente a pública – deve resultar contribuições significativas à coletividade. Esperamos ofertar principalmente àqueles que temos chamado de signatários do trânsito, possibilidades de debates em torno do nosso objeto de pesquisa.
Assim, nosso trabalho, que é alicerçado na Análise do Discurso de orientação francesa, pretende trazer à tona algumas práticas discursivas comumente realizadas nos C.F.C’s, de modo a colocar em evidência aquilo que se tem realizado nessas instituições.
Desta feita, apresentamos de modo sintético nosso projeto de pesquisa:
Título:
Educação para o Trânsito nos Centros de Formação de Condutores: um Estudo Sobre os Discursos Cristalizados no Trânsito.
Corpus:
a)
Para
analisar o Discurso Jurídico teremos como corpus
lingüístico o “manual de candidatos a motorista” distribuído nos Centros de
Formação de Condutores, bem como alguns artigos que são citados, do Código de
Trânsito Brasileiro, nestes manuais.
b) Para analisar o Discurso Pedagógico pretenderemos coletar e transcrever alguma(s) fala(s) de instrutor(es) de trânsito nos Centros de Formação de Condutores. Para analisar o Discurso presente nos Temas Transversais – Trânsito – utilizaremos esses referidos textos presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Objetivos:
a) Analisar o conteúdo programático e legal, bem
como o “manual de candidato a motorista”,
distribuído nos Centros de Formação de Condutores;
b) Analisar os seguintes documentos: Temas
Transversais (trânsito) e Cap. VI do Código de Trânsito Brasileiro.
c) Comparar os discursos jurídico e pedagógico
relacionados à Educação para o Trânsito.
a)
Objeto
de estudo: discursos produzidos por professores e alunos nos cursos
teórico-técnicos exigidos pelo CONTRAN. Parâmetros Curriculares nacionais –
Temas Transversais (trânsito).
b)
Método
de coleta de dados: serão gravadas por meio audiovisual e, em seguida
transcritas, 270 horas de aula em três Centros de Formação de Condutores, assim
distribuídos:
c)
C.F.C.
Jóia – Iporá-GO – 90 horas de aula.
d)
C.F.C.
Cultura – Goiânia-GO – 90 horas de aula.
e)
C.F.C.
Tropical – Aragarças-GO – 90 horas de aula.
c)
Análise
de dados – serão analisados os discursos produzidos por professores e alunos
nos cursos já mencionados, a partir da A.D. francesa. Far-se-á uma relação das
aulas ministradas nos C.F.C’s, com os documentos: Código de Trânsito Brasileiro
e Temas Transversais – trânsito.
Na tentativa de cumprir aquilo que escrevemos em nosso projeto, já estamos desenvolvemos algumas partes nele elencadas. Assim, já participamos, este ano, de dois seminários:
a) Grupo de Pesquisa em Análise do discurso. (UFU/MG). Neste evento, com um trabalho intitulado - SÓ PODE SER MULHER: os sentidos dos discursos cristalizados sobre a mulher no trânsito – discutimos, a partir dos conceitos teóricos da Análise do Discurso, como determinadas práticas discursivas são revestidas por uma vontade da verdade tão presentes em algumas instituições e grupos sociais e como essas práticas influem, decididamente, para a construção de determinados sentidos.
b) Seminário Internacional Michel Foucault: Perspectivas. (UFSC/SC). A partir de um trabalho intitulado – Sujeito, Discurso e Identidade na Educação para o Trânsito: uma Visita a Michel Foucault – discutimos, sobretudo, a constituição dos sujeitos relacionados à Educação para o Trânsito realizada nos Centros de Formação de Condutores, tendo como horizonte teórico os conceitos de Foucault sobre sujeito, identidade e discurso.
Ademais, temos aproveitado as disciplinas de crédito obrigatório, para desenvolver alguns trabalhos. Dessa forma, já realizamos um trabalho intitulado – Leitores e Leituras nos Centros de formação de Condutores – que se debruça principalmente sobre o manual de candidato a motorista distribuído nos C.F.C.’s, de modo a mostrar que as práticas de leituras nessas instituições estão muito defasadas em relação aos vários domínios exigidos ao signatário do trânsito.
Temos também participado do TRAMA – Grupo de Estudos em Análise do Discurso – sob a coordenação da profª. Dra. Kátia Menezes de Sousa, FL/UFG. Desse grupo de estudos, que tem contribuído decisivamente para “enraizar” a Análise do Discurso em Goiás, temos recebido contribuições significativas para o desenvolvimento de nosso projeto.
Atualmente, estamos empreendendo um levantamento histórico – uma espécie de “arqueologia” – sobre o surgimento do aparelho jurídico de trânsito e das instituições criadas a partir desse aparelho.
Pela leitura de Foucault (1979) sentimo-nos tentados a proceder um levantamento historiográfico do trânsito a partir da perspectiva discursiva. Acreditamos que não só a ordem dos grandes acontecimentos determinam o curso da História. Aliás, pensamos que o conceito da Nova História pode ser-nos importante na medida em que ela, pelo estudo de pequenas práticas cotidianas em determinados acontecimentos, ajuda-nos a entender os movimentos de (des)construção de determinadas práticas discursivas.
Sendo assim, ao nos aproximarmos do tema Educação para o trânsito nos C.F.C.’s, esperamos nos deparar com determinados fatos que, muito embora tenham sido desprezados na narratologia discursiva dos aparelhos jurídico, pedagógico e publicitário, por exemplo, sejam partes fundamentais para um olhar diferente sobre o trânsito.
Espera-se que ao final de nossa dissertação de mestrado, surjam tantas indagações e possibilidades de pesquisa quantas foram aquelas que se nos depararam ao tempo que nos propusemos a pensar sobre o tema Trânsito. Não pretendemos trilhar por mão única, antes queremos bifurcações, trevos, desvios, enfim, caminhos diversos de um mesmo ponto de partida.
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