Título: A leitura em LE e a interação como fator de construção do conhecimento
Nome: PINCOWSCA, G. C. C.
Unidade Acadêmica: Faculdade de Letras
E-mail: giza@dgmnet.com.br
Palavras-chave: leitura, interação, PCNs, pesquisa-ação
INTRODUÇÃO
A escolha pelo estudo da habilidade de leitura, num primeiro momento, nasceu de reflexões pessoais a respeito de que o desenvolvimento de tal habilidade deveria ser o foco principal do ensino de língua estrangeira (LE) nas escolas públicas. Com salas super lotadas, carga horária reduzida, poucos recursos tecnológicos disponíveis e proficiência lingüística precária do professor, o ensino de leitura parece ser o objetivo possível. No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documentos que têm por objetivo nortear o trabalho dos professores e incentivá-los à reflexão sobre a prática pedagógica, ressaltam a importância do foco na leitura, pois “a leitura atende, por um lado, às necessidades da educação formal, e, por outro, é a habilidade que o aluno pode usar em seu contexto social imediato”(BRASIL, 1998, p.20).
No entanto, o foco na leitura não deve ser visto como uma atitude reducionista ou uma proposta mais fácil de ser adotada. É preciso refletir e observar se os pressupostos teóricos que balizam os PCNs, baseados na visão da natureza sociointeracional da linguagem e da aprendizagem, estão sendo colocados em prática. Para que isso ocorra, é imprescindível que os professores conheçam e compreendam tais diretrizes e se envolvam em um processo reflexivo contínuo.
De um lado, sob uma perspectiva interacional da linguagem, o aluno utiliza o conhecimento sistêmico, o conhecimento de mundo e o conhecimento da organização textual[1] para a construção do significado do texto, possibilitando-lhe adquirir consciência de que a linguagem é uma prática social. “Quem usa a linguagem com alguém, o faz de algum lugar determinado social e historicamente” (BRASIL, 1998, p. 27).
A visão sociointeracional da aprendizagem tem por base as concepções vygotskianas,[2] segundo as quais os processos cognitivos necessários para a construção do significado são gerados por meio da interação entre o aluno e um par mais competente (por exemplo, o próprio professor ou, até mesmo, um outro aluno).
Contudo, poucos são os professores que estão familiarizados com essas teorias. Tal inacessibilidade me motivou a pensar em me tornar um instrumento multiplicador da prática pedagógica caracterizada pelos PCNs, utilizando a presente pesquisa como uma maneira de auxiliar o professor a entender e aplicar os referidos pressupostos teóricos na aula de leitura em LE, envolvendo-o em um processo de reflexão sobre o seu trabalho em sala de aula.
Com base nessas considerações iniciais, esta pesquisa é orientada pelos seguintes objetivos:
METODOLOGIA
Esta pesquisa, cujo sujeito será um professor de 8ª série de escola pública de RioVerde, Goiás, será caracterizada como uma pesquisa-ação por ser movida pelo desejo desta pesquisadora em contribuir, por meio de ações concretas, para que o ensino de LE nas escolas públicas seja relevante e efetivo. A pesquisa-ação permite mostrar não só o “que” e “como” as coisas acontecem, mas também sugere um plano de ação com o objetivo de mudar a situação existente, trazendo algum benefício e, portanto, colaborando para torná-la melhor.
A pesquisa será realizada em três etapas: em um primeiro momento, será observado como as interações na aula de leitura estão sendo realizadas e em que medida as ações do professor estão de acordo com as orientações dos PCNs. A coleta de dados desta fase será feita por meio de entrevistas com o professor, gravação em áudio dos momentos da aula dedicados à leitura e notas de campo desta pesquisadora.
Na segunda etapa, acontecerão encontros da pesquisadora com o professor participante, momentos estes em que o professor poderá se engajar em um processo de reflexão, tendo a oportunidade de entrar em contato com as discussões e pesquisas na área de leitura em LE, e, desse modo, questionar e alterar a sua prática em sala de aula.
Em seguida, perfazendo a última etapa da pesquisa, nova observação com notas de campo e gravação dos momentos da aula dedicados à leitura serão efetuados, para avaliação dos resultados obtidos.
RESULTADOS
Pelo fato de poder unir teoria e prática, a presente pesquisa pode ser um instrumento para que o professor adquira uma nova compreensão acerca das abordagens de ensino/ aprendizagem de leitura em LE e tenha a oportunidade de promover algum tipo de mudança em sua prática, subvertendo procedimentos arcaicos e ineficientes. Na maioria das vezes, o texto em LE é trabalhado nos moldes tradicionais, com exercícios de simples recuperação de informação, pretexto para o ensino de gramática e tradução. Espera-se que o professor, ao ter seus conhecimentos atualizados acerca do ensino de leitura em LE, possa adotar uma nova postura e contribuir para “acabar de uma vez por todas, com a falsa idéia de que LE só se aprende fora da escola” (CELANI, 1997, p.159).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[1] O conhecimento sistêmico refere-se ao conhecimento que os usuários de uma determinada língua têm do seu sistema lingüístico, tanto nos níveis fonético, sintático, lexical e semântico. O conhecimento de mundo, também chamado de esquemático, é o conhecimento convencional que as pessoas possuem sobre as coisas que as rodeiam. E o conhecimento textual se relaciona às formas de organizar informações em textos orais e escritos.
[2] De acordo com Vygotsky (1994), a aprendizagem se realiza por meio de interações significativas que a criança tem com os membros de sua comunidade, ocorrendo no espaço denominado de Zona de Desenvolvimento Proximal.