Estudo do Reaproveitamento dos Resíduos de Gesso e suas aplicações na Construção Civil do Estado de Goiás.

CARVALHO, M.T.M; TUBINO, R.M.C

Instituição: Escola de  Engenharia Civil UFG

e-mail: micheletereza@brturbo.com; geyer@eec.ufg.br

Palavras chaves: reciclagem, gesso, tijolo de gesso reciclado.

 

1.      Introdução

 

Buscando soluções para a problemática abaixo citada:

·  Conforme a classificação da resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002 sobre a Gestão dos Resíduos da Construção Civil, o resíduo de gesso não possui formas de reaproveitamentos técnica e economicamente viáveis;

·  O crescimento em torno de 10 % do uso de gesso na construção civil durante os últimos sete anos (dados relativos a aumento nas vendas do produto);

·  O desperdício do gesso na ordem de 8% em volume do material aplicado nas paredes conforme informado pelo presidente da Indústria da Construção Civil

·  Incentivo a criar novos materiais capazes de serem utilizados em habitações populares garantindo a sustentabilidade.

Esta pesquisa tem como objetivo principal o reaproveitamento dos resíduos do gesso provenientes das indústrias do Estado de Goiás (indústrias fornecedoras e consumidoras), para que sirva de matéria básica, na confecção de tijolos de gesso e, também, a sua reutilização em forma de pó de gesso para unir peças pré-moldadas de gesso, visando reduzir a extração em jazidas naturais.

 

2. Metodologia

 

2.1 Estudo 1

Com o apoio de indústria de molduras e placas de gesso determinou-se  uma amostra de estudo para se diminuir a variabilidade da amostra. Foi designada uma carreta de gesso como material de estudo. Desta foi extraído o material para o estudo de referência (gesso natural) e o entulho gerado desta carreta que foi colhido para os testes experimentais.O resíduo de gesso foi submetido à secagem em estufa, com temperatura constante de 100º C até a constância de massa, depois foi moído em moinho de bolas (abrasão Los Angeles) durante 16 minutos. A partir deste momento o entulho de gesso será chamado de gesso reciclado.

  Todos os ensaios descritos a seguir foram realizados para duas amostras, sendo um gesso natural e outra o gesso reciclado.As amostras foram submetidas a ensaios de caracterização física (determinação das propriedades físicas do pó, determinação das propriedades físicas da pasta, determinação das propriedades mecânicas, química, espectroscopia de infra-vermelho, análise termo-gravimétrica (TGA) e calorimetria diferencial exploratória (DSC), Microscopia eletrônica de varredura (MEV) e verificação da trabalhabilidade e utilização.

 

2.2 Estudo 2

Durante a moldagem das sancas, placas e molduras sobra uma quantidade de gesso preparado, que antes do final da pega pode ser reaproveitado. Este “resíduo” é depositado em uma fôrma para a fabricação de 2 tijolos, conforme a Fotografia 2.1. O gesso em estado fresco é nivelado na fôrma (Fotografia 2.2) e depois de aproximadamente 2 minutos este é retirado da mesma, através da queda, pois não se utiliza nenhum desmoldante (Fotografia 2.3), após a desforma este é armazenado ao tempo, conforme Fotografia 2.4.

 Fotografia 2.1 – Moldagem do tijolo de gesso (Fonte: Carvalho; Tubino, 2003)

Fotografia 2.2 – Tijolo na fôrma

(Fonte:Carvalho; Tubino, 2003)

 

 

 

Fotografia 2.3 – Retirada do tijolo da fôrma   Fotografia 2.4 – Armazenamento do tijolo (Fonte:Carvalho;Tubino, 2003)                          (Fonte:Carvalho;Tubino, 2003)

O estudo experimental dos tijolos visa conhecer o material produzido com o resíduo do gesso comparando suas características com tijolo maciço comum. Foram ensaiados: quanto à resistência mecânica à compressão, densidade aparente seca, absorção, dimensões, eflorescência, percolação e determinação das propriedades químicas.

 

4. Resultados

 A Tabela 4.1 apresenta as características químicas e físicas do gesso em pó natural e do gesso reciclado.

 

Tabela 4.1 – características químicas e físicas das amostras de gesso

PROPRIEDADES DETERMINADAS

 

Gesso em pó natural

Gesso em pó reciclado

Limite (NBR 13207/94)

Massa específica (g/cm³)

2,57

3,64

-

Área específica (cm²/g)

5.270

15.170

-

Água combinada (%)

19,1

18,4

-

Componentes

Químicos

(%)

perda ao fogo

8,51

-

-

trióxido de enxofre (SO3)

51,29

51,75

>53%

óxido de magnésio (MgO)

0,07

0,10

 

dióxido de silício (SiO2)

0,97

1,26

 

óxido de ferro (Fe2O3)

0,08

0,11

 

óxido de alumínio (Al2O3)

0,08

0,14

 

óxido de cálcio (CaO)

38,00

38,13

>38%

 

Álcalis

Totais

óxido de sódio (Na2O)

0,01

0,01

-

óxido de potássio (K2O)

0,02

0,02

-

Equiv. alcalino

0,02

0,02

-

sulfato de cálcio (CaSO4)

87,19

87,19

-

 

 Água combinada (%)

19,1

18,39

-

 

Água livre (%)

0,95

0,29

Máx 1,3

 

Hemidrato (%)

76,932

74,072

-

 

Anidrita

6,20

18,51

-

Constituintes químicos calculados

dihidrato

91,26

87,87

ASTM C22/C22/M9 >70%

 

Carbonato de cálcio CaCO3

3,71

3,37

-

 

Carbonato de magnesio MgCO3

0,15

0,21

-

 

Massa unitária (g/cm3)

0,656

0,667

<0,70

 

Módulo de finura

1,18

1,33

>1,10

 

Tempo de início de pega (min)

11,38

14,07

>10

Propriedades Físicas

Tempo de fim de pega (min)

21,59

25,03

20-45

 

Dureza (N/mm2)

36,65

 

34,91

 

>30

 

Resistência à compressão (Mpa)

11,91

 

9,26

 

>8,40

  5- Considerações finais

 

O gesso é um material de construção com muitas vantagens como: trabalhabilidade, maior rapidez na execução de serviço devido à eliminação de algumas fases, isolamento térmico e acústico, retração insignificante, alta durabilidade, densidade aparente baixa, resistência ao fogo.

Como pode-se observar as características físicas e químicas do gesso reciclado são compatíveis as exigências das normas e as propriedades do gesso natura.Para os tijolos de gesso a resistência a compressão aos 45 dias foi superior a 1,5 MPa, que é a exigência para o tijolo maciço.  Conclui-se que os estudos são viáveis tecnicamente, mas como todo estudo experimental há a necessidade de estudos complementares multidisciplinares para estudar o ciclo de vida do resíduo.

 

Referencias Bibliográficas

 

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA – Resolução nº 307 de 05 de julho de 2002. 4 pg. Brasília. Disponível no site: http://www.pbqp-h.gov.br. Acesso em 5/02/03

 

CARVALHO, M.T.M.; TUBINO, R.M Estudo do Reaproveitamento dos Resíduos de Gesso na confecção de tijolos e suas aplicações na construção civil do Estado de Goiás In: DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL-MATERIAIS RECICLADOS E SUAS APLICAÇÕES, 6., São Paulo, 2003.  Anais.  São Paulo, CT-206, 2003.

Fonte de Financiamento: Capes e Gesso Nobre