Caracterização das proteínas de reserva de 12 genótipos de arroz da Coleção Nuclear Brasileira de Arroz.
Martin-Didonet, C.C.G; Brondani, C.; Didonet, A. D. ; Rangel, P. H; Brondani, R.P.V.
Embrapa Arroz e Feijão- Santo Antônio de Goiás, GO. cladido@hotmail.com.
Palavra chave: Proteína de reserva, arroz, glutelina, frações protéicas.
Introdução
O arroz é o alimento primordial para mais de 50% da população mundial. No Brasil, é um alimento básico na dieta, sendo uma importante fonte protéica. Atualmente, não só a quantidade, mas também a qualidade dos alimentos vem sendo exigida pelos consumidores. A qualidade envolve múltiplos fatores e para o arroz, uma das mais importantes, é qualidade nutricional, que resulta da digestibilidade protéica. No arroz, a digestibilidade esta diretamente relacionada com o aminoácido lisina, presente em maior quantidade na fração glutelina (LIU et al., 2004) que corresponde à cerca de 80% da proteína total do arroz (LARKINS, 1981). A caracterização quantitativa e qualitativa das proteínas de reserva de arroz é o primeiro passo para a determinação da qualidade nutricional dos genótipos de arroz. Diante disto, este estudo tem como objetivo principal realizar a caracterização quantitativa e qualitativa do teor protéico de 12 genótipos de arroz, padronizar os métodos de análise adotados e disponibilizar os dados gerados para o programa de melhoramento de arroz, a fim de auxiliarem na seleção de genótipos de interesse.
Metodologia
Preparo de Extrato de Proteínas das Sementes de Arroz: Para o preparo das amostras protéicas foram utilizadas sementes de 12 genótipos de arroz que fazem parte da Coleção Nuclear Brasileira de Arroz (Tabela 1). A extração seqüencial de proteínas foi realizada segundo TURLEY & CHING (1986) com modificações, explorando a característica de solubilidade de cada fração protéica.
Dosagem de Proteína: A dosagem das proteínas totais e das frações protéicas foram realizadas pelo método de BRADFORD (1970), em triplicada de três experimentos independes, tanto para a proteína total quanto para as frações.
Dodecil Sulfato de Sódio Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE): As análises do perfil protéico total e das frações foram realizadas em gel de poliacrilamida desnaturante SDS-PAGE em sistema de tampão descontínuo, segundo LAEMMLI (1970), nas concentrações de 12 e 14% .
Resultados e Discussão
Através das dosagens de proteína total, a linhagem de arroz com menor conteúdo de proteína foi a BRA 01477, com 9,75%, e a com maior conteúdo foi a linhagem BRA 01058, com 15,74% .O conteúdo médio de proteína foi estimado em 12,06% (Tabela 1). Este valor foi superior ao obtido para linhagens chinesas, com percentagem média de 8,26% (LIU et al., 2004), e um pouco acima do conteúdo médio de proteínas, entre 8 a 10% da semente de arroz, sugerido por LARKINS (1981). A análise de fracionamento, baseada na diferença de solubilidade protéica, demonstrou haver uma variação no conteúdo destas frações para cada um dos 12 genótipos avaliados, próximos aos da literatura (JULIANO, 1972; KRISHNAN & WHITE, 1995). O arroz vermelho (GEN 16), o arroz preto (CA 230048) e o silvestre (O. glumaepatula GEN 1235) foram os mais divergentes quanto ao conteúdo de todas as frações (Tabela 1). A análise das proteínas totais por SDS-PAGE das linhagens, revelou algumas diferenças tanto na intensidade, quanto na presença de algumas bandas exclusivas para determinados acessos de arroz avaliados. Na região correspondente a 35 kDa observou-se, de acordo com informações disponíveis na literatura, proteínas glutelinas do tipo alfa, havendo uma variação para esta fração entre os genótipos avaliados (KRISHNAN & OKITA., 1986).
Conclusões
A análise quantitativa demonstrou diferenças no conteúdo protéico entre os genótipos de arroz estudados, sendo a média de proteína total no arroz estimado em 12%. A análise do perfil eletroforético das proteínas totais possibilitou identificar proteínas de ocorrência comum e exclusiva nos materiais avaliados, demonstrando a variação qualitativa entre eles. A análise qualitativa da fração glutelina possibilitou visualizar a presença de diferentes tipos de glutelina alfa entre os genótipos estudados. Os acessos de arroz vermelho, arroz preto e arroz silvestre (O. glumaepatula) apresentaram as maiores variações nas frações albuminas, globulinas, glutelinas e prolaminas, demonstrando um enorme potencial que ainda está por ser explorado entre os demais acessos que compõem a Coleção Nuclear de Arroz. Os genótipos identificados como tendo proteínas diferenciais serão utilizados pelo programa de melhoramento genético do arroz para aumento da qualidade protéica das novas cultivares comerciais.
Tabela 1
. Percentagem da proteína total e das frações albumina, globulina, prolamina e glutelinas obtidas pelas dosagens* dos 12 genótipos de arroz.
Genótipos |
Proteína total % |
Albumina (%) |
Globulina (%) |
Prolamina (%) |
Glutelina (%) |
Bonança |
9,86 |
0,81 |
12,12 |
2,28 |
84,77 |
BRA 01477 |
9,75 |
2,24 |
12,10 |
2,19 |
83,45 |
BRA 01466 |
10,82 |
1,14 |
12,10 |
2,00 |
84,74 |
BRA 01461 |
11,81 |
1,80 |
14,30 |
1,79 |
82,11 |
BRA 01058 |
15,74 |
0,90 |
11,11 |
2,31 |
85,68 |
CNAi 9097 |
13,50 |
3,17 |
13,18 |
2,11 |
81,52 |
CNAs 9026 |
13,05 |
1,47 |
14,44 |
2,98 |
81,10 |
CNAs 8989 |
12,46 |
4,88 |
12,22 |
1,94 |
80,95 |
CNAs 8983 |
11,78 |
1,88 |
13,42 |
3,16 |
81,53 |
CA-230048 (Arroz preto) |
10,05 |
14,20 |
24,43 |
4,17 |
57,18 |
GEN 16 (Arroz vermelho) |
15,38 |
6,22 |
2,67 |
6,45 |
84,64 |
GEN 1235 (Arroz silvestre) |
10,60 |
5,43 |
2,17 |
0,21 |
92,18 |
Média |
12,06 |
3,68 |
12,02 |
2,63 |
81,65 |
* cada resultado é uma média de três repetições de três experimentos independentes.
Bibliografia
BRADFORD, M.M. Analytical Biochemistry, v.72, p. 248–254. 1976.
JULIANO, B. O.. In: Rice: Chemistry and Technology. American Association of Cereal Chemists, ed. DF Houston, St. Paul, p. 16-74, 1972.
KRISHNAN H. B.; OKITA T.W. Plant Physiol v.81, p. 748-753, 1986.
LAEMMLI, U.K. Nature v.227, p. 680-685, 1970.
LIU, Z.; CHENG, F. ; ZHANG, G Food Chemistry, v.89, p.49-52, 2004.
TURLEY, R.H.; CHING, T. M. Crop. Science, v.26, p. 987-993, 1986.
Fonte de Financiamento: CNPq