Condições de Abastecimento de Água e Hábitos de Higiene Bucal de Adultos do Município de Bonfinópolis-GO.

Autoras: Tatiana Oliveira Novais tatinovais@hotmail.com

Érika Fernandes Soares

Maria do Carmo Matias Freire

Faculdade de Odontologia / Pós-graduaçao

Palavras-chaves: hábitos de higiene bucal; adultos; condições de abastecimento de água

Introdução

É fato na literatura que as condições de habitação e saneamento estão intimamente relacionados com a saúde da população. Tais condições também são utilizadas como indicadores na determinação de índices socioeconômicos em estudos populacionais.Porém, poucos são os estudos que relacionem condicionantes ambientais e saúde bucal.

No município de Bonfinópolis, localizado a nordeste de Goiânia-GO, o Programa Saúde da Família (PSF) está sendo operacionalizado desde março de 2001. Através de visitas domiciliares, a Equipe de Saúde Bucal (ESB) observou as precárias condições de moradia da população, dentre elas à falta de abastecimento de água com canalização interna e/ou instalações sanitárias em muitos domicílios.

Como a prática de higiene bucal está associada ao abastecimento de água, sucitou-se a hipótese de que os indivíduos residentes em domicílios com água canalizada interna aprsentariam melhores hábitos de higiene bucal do que aqueles residentes em domicílios sem água canalizada interna no domicílio.

Metodologia

A amostra foi composta por adultos com idade a partir dos 19 anos e não portadores de doenças incapacitantes (como acamados, deficientes mentais ou físicos com tetraplegia) devido à dificuldade destes em praticar higiene bucal residentes em domicílios urbanos beneficiados pelo PSF no Município de Bonfinópolis-GO nos meses de maio a setembro de 2003.

A amostra foi dividida em dois grupos:

Grupo 1 – indivíduos residentes em domicílios que não possuíam água canalizada (pelo menos um ponto de água) dentro de casa,

Grupo 2 – indivíduos residentes em domicílios que possuíam água canalizada (pelo menos um ponto de água) dentro de casa.

Para escolha da amostra, utilizou-se como critério os dados referentes ao abastecimento de água (rede pública, poço ou nascente e outros) dos domicílios. Estes dados foram obtidos através do consolidado das famílias por micro-área do PSF, divulgado pelo Sistema de Informação de Atenção Básica – SIAB no ano de 2002.

Para compor o grupo 1 foi selecionada a micro-área 1 (segmento 1), pois esta apresentou os piores índices de abastecimento de água, com maior porcentagem de domicílios sem acesso a rede pública de água. Foram identificados 69 domicílios nesta situação.

Devido ao baixo número de domicílios na micro-área 1 outras duas micro-áreas foram selecionadas para completarem a amostra: a micro-área 7 com 22 domicílios e a micro-área 8 com 18 domicílios . Obteve-se, portanto, um total de 109 domicílios para o grupo 1.

O grupo 2 teve como amostra os domicílios restantes da micro-área 8 no total de 113 domicílios (86,26% dos cadastrados nesta micro-área), por apresentar maior número de domicílios, dentre as micro-áreas selecionadas para o grupo 1.

Porém, no momento das entrevistas, observou-se que nas micro-áreas escolhidas para compor o grupo 1 haviam domicílios que se enquadravam no grupo 2. O mesmo aconteceu com domicílios da micro-área do grupo 2. Assim, quando se obteve mais de 100 questionários respondidos do grupo 2, nos domicílios restantes ainda não visitados só foi realizada a entrevista com os moradores cujo domicílio enquadrava-se no grupo 1. Portanto, foram visitados 105 domicílios que se enquadravam no grupo 1 e 106 domicílios para o grupo 2, totalizando 211 domicílios visitados.

As principais variáveis estudadas foram: condição de abastecimento de água dos domicílios; local de realização de higiene bucal; freqüência e recursos de higiene bucal; dificuldades percebidas na higiene bucal e percepção do objetivo e da importância do cuidado com os dentes.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Goiás.

O questionário foi elaborado baseado em estudos anteriores em saúde bucal e aplicado nos domicílios por meio de visitas domiciliares realizadas por uma das pesquisadoras, cirurgiã-dentista do PSF e por duas Agentes Comunitárias de Saúde do PSF de Bonfinópolis.

Os dados foram analisados utilizando-se os programas Excel-Office 2000 e Epi-Info 6.0.

Resultados e Discussão

Todos moradores visitados concordaram em participar da pesquisa, sendo a maioria mulheres (72,51%).

Constatou-se um baixo nível de escolaridade: 63,98% da amostra relatou ter ensino fundamental incompleto e 19,43% relatou não ter estudado. A ocupação "do lar" foi a mais citada (47,39%).

Cerca de 60,66% dos entrevistados declararam serem dentados e não portadores de prótese.

A média de moradores por domicilio foi de 3,60 para o grupo 1 e 4 para o grupo 2. Aproximadamente 76,30% dos moradores declararam serem os próprios donos dos domicílios. Dos 211 domicílios visitados, 96,98% construídos de tijolo e apenas 3,32% não possuíam ligação de luz elétrica.

Quanto à condição de abastecimento de água, 60,66% dos domicílios pesquisados recebem água da rede pública de abastecimento. Pias e/ou torneiras na parte interna (cozinha ou banheiro) estavam presentes em 88,68% dos domicílios do grupo 2. No grupo 1, apenas 3 domicílios não tinham pias e/ou torneiras; a maioria apresentava esta comodidade na parte externa coberta (banheiro ou área de serviço) ou descoberta.

O local de escovação dos moradores entrevistados do grupo 1 foi o banheiro de fora (49,52%) e no grupo 2 foi o banheiro de dentro (73,58%).

Apenas um entrevistado respondeu que não realiza higiene bucal, sendo este desdentado total, sem prótese. Os recursos mais relatados foram à escova (93,83%) e a pasta dental (90,52%) e a freqüência mais comum da higiene foi duas (43,60%) ou três vezes (39,34%) ao dia. Não houve diferença estatisticamente significante em relação a estas variáveis.

Questionados sobre a importância do cuidado com os dentes, 98,10% respondeu que sim e o fazem principalmente para prevenir doenças da boca (57,34%). A maioria dos moradores entrevistados (87,20%) relatou não ter dificuldade em escovar os dentes. Dos que afirmaram ter dificuldade, muitos do grupo 1 e a maioria do grupo 2 relataram não saber dos motivos. Os motivos mais citados foram dor e sensibilidade no grupo 2 (22,22%) e no grupo 1, a qualidade e dificuldade de acesso à água (23,54%) além também de dor e sensibilidade (11,77%).

Cerca de 64% dos moradores entrevistados relataram satisfação com a própria higiene bucal. Porém, a análise dos dados mostrou que entre os entrevistados do grupo 1, a resposta "não sei" foi mais freqüente que no grupo 2, havendo diferença estatisticamente significante (X 2 = 7,88; P= 0,005).

A maioria dos moradores entrevistados do grupo 1 relataram escovar seus dentes na pia do banheiro de fora (45,71%). Já os moradores do grupo 2 escovam na pia do banheiro de dentro. Questionados quanto à percepção do local de escovação, 61,61% do total da amostra consideraram bom o local onde escovam. Houve diferença estatisticamente significante, sendo a resposta "bom" citada com mais freqüência no grupo 2 (X2 = 31,08; P= 0,000). A principal razão que os moradores do grupo 1 citaram por acharem o local de escovação "não muito bom" ou "ruim" foi a dificuldade de acesso ao local (20,69%).

Conclusões

Os domicílios do município de Bonfinópolis – GO incluídos no presente estudo eram, em sua maioria, casas próprias, de alvenaria, com acesso à água canalizada, luz elétrica e uma média de 3,6 a 4,0 moradores por domicílio. A maioria dos entrevistados era do sexo feminino, dentados, com baixa escolaridade e trabalhadoras "do lar".

A maioria dos entrevistados que possuíam água canalizada interna ao domicílio realizava higiene bucal no banheiro de dentro e entre aqueles que não possuíam água canalizada no interior do domicílio, a maioria o fazia no banheiro de fora ou no tanque ou na pia da área externa coberta ou descoberta.

Aproximadamente 100% da amostra (210 em 211 entrevistados) relatou realizar higiene bucal diária. A freqüência de escovação foi alta e a maioria utilizava escova e pasta dental.

Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos de moradores sem água canalizada no interior do domicílio e com água canalizada no interior do domicílio com relação à freqüência, recursos, objetivo e importância do cuidado com os dentes e dificuldade de higienização. Porém, houve diferença estatisticamente significante entre os mesmos quanto à satisfação com a própria limpeza dental e a percepção sobre o local de realização da higiene bucal.

Referências Bibliográficas:

Abegg C. Hábitos de higiene bucal de adultos porto-alegrenses. Rev Saúde Pública 1997; 31(6): 586-93.

Abegg C, Marcenes W, Croucher R et al.. The relationship between tooth cleaning behavior and flexibility of working time schedule. J Clin Periodontol 1999; 26(7): 4448-52.

Baldani MH, Narvai PC, Antunes JLF. Cárie dentária e condições sócio-econômicas no estado do Paraná, Brasil, 1996. Cad Saúde Pública 2002 maio-jun.; 18(3): 755-63.

Fonte de financiamento: nenhuma