OTIMIZAÇÃO DA METODOLOGIA A SER ADOTADA NA ANÁLISE SENSORIAL DE ARROZ DE TERRAS ALTAS

BASSINELLO, P.Z., ROCHA, M.S. (Embrapa Arroz e Feijão.
E-mail:
pzbassin@cnpaf.embrapa.br)

Palavras-chave: arroz de terras altas; análise sensorial; teste de cocção.

 

INTRODUÇÃO

O arroz é um dos principais alimentos consumidos pela população brasileira, constituindo-se uma das suas principais fontes de energia. A maioria da população prefere grãos longos finos e translúcidos e que permaneçam soltos e macios após o cozimento e resfriamento. (Juliano, 1979). O aspecto dos grãos após o cozimento depende da concentração de amilose presente no amido, apresentando os cultivares com baixa amilose, cozimento aguado. A textura e aparência do arroz após o cozimento são características que praticamente definem a aceitabilidade de um novo cultivar. A maciez e a firmeza do arroz cozido são inversamente correlacionadas com o teor de amilose (Pereira & Rangel, 2001). A expansão do volume, a absorção de água e a resistência à desintegração do arroz beneficiado, durante o cozimento, estão diretamente relacionados com a proporção de amilose/amilopectina do amido que, no caso de cereais, normalmente é de 1:3 (Vitti, 1966). A Embrapa Arroz e Feijão, diante da crescente demanda por caracterização sensorial dos novos cultivares lançados, está implementando uma linha de pesquisa em análise sensorial, sendo necessária a otimização da metodologia de preparo das amostras a serem oferecidas aos provadores treinados. Considerando-se a grande variabilidade de métodos empregados para o preparo das amostras, notou-se a necessidade de adaptá-los aos cultivares de arroz de terras altas estudados neste trabalho.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Utilizaram-se os cultivares de terras altas Caiapó, BRS-Talento e Aimoré com 5% de germe e grau de polimento entre 90 a 100%. Realizou-se a determinação do tempo mínimo de cocção (TMC) do arroz (4g/135 mL água destilada em béquer) em placa aquecedora a 110°C e banho-maria a 95°C. Após 10 minutos em ebulição constante retiraram-se aproximadamente 10 grãos de arroz, espalhando-os sobre uma placa de vidro e pressionando-os firmemente com placas menores. A amostragem foi feita a cada minuto até que os grãos estivessem totalmente transparentes. Para a análise de absorção de água do arroz (2g/ 40 mL água destilada em tubo de ensaio vedado) utilizou-se banho-maria a 95°C. O processo foi interrompido no TMC previamente determinado (métodos otimizados no laboratório de Qualidade de Grãos). O teste de cocção seguiu metodologia descrita em (Della Modesta et al., 1997), utilizando-se banho-maria a 95°, durante o tempo previamente determinado. A cocção completa também se deu no fogão em panela de alumínio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A variação do TMC determinada na placa aquecedora e no banho-maria e a respectiva absorção de água (AA), estão apresentados na Tabela 1, para os três cultivares avaliados.

Tabela 1. Tempo mínimo de cocção (TMC) e absorção de água (AA) determinados em cultivares de arroz de terras altas.

Cultivar

TMC (placa aquecedora)

AA (%)

TMC (banho-maria)

AA (%)

Aimoré

21’ 26’’

202

31’ 09’’ (+ 47,6%)

254

Caiapó

23’ 48’’

210

37’ 20’’ (+61%)

246

BRS-Talento

19’ 43’’

275

29’ 43’’ (+ 52,6%)

372

 

Pode-se observar que a placa aquecedora acelerou o cozimento de todos os cultivares de 47,6% a 61% no TMC, conforme o cultivar. Essa diferença no TMC influenciou a absorção de água do arroz, uma vez que os grãos cozidos pelo TMC obtido na placa permaneceram duros e parcialmente gelatinizados, enquanto os grãos cozidos pelo TMC do banho-maria ficaram macios e totalmente gelatinizados. No teste de absorção de água, os cultivares Aimoré e BRS-Talento expandiram o seu volume, ficando o primeiro mais firme e o segundo, mais macio. O Caiapó apresentou-se empapado em todos os testes. Nos dois testes de cocção (panela ou banho-maria), adotando-se o TMC obtido na placa aquecedora, os grãos apresentaram-se duros, observando-se que aproximadamente aos 10 minutos de cocção, a água havia evaporado totalmente. No teste de cocção em banho-maria, utilizando-se o TMC correspondente, os grãos mostraram-se macios, tendo o cultivar Aimoré ficado ligeiramente duro, porém mais solto; o BRS-Talento, macio e ligeiramente solto; e o Caiapó, macio e pegajoso.

 

CONCLUSÕES

O TMC obtido na placa aquecedora não foi suficiente para resultar numa AA adequada para o grão apresentar textura macia. Em todos os métodos testados, aqueles realizados em banho-maria foram os mais satisfatórios, proporcionando maior reprodutibilidade dos resultados ao se avaliarem as características sensoriais do arroz. O teste de AA mostrou correlação direta com o teste de cocção, pois a quantidade de água previamente definida propiciou um cozimento adequado, do que se pode concluir que essa metodologia de preparo da amostra poderá ser adotada nos futuros testes de avaliação sensorial.

 

AGRADECIMENTOS

A Profª. Rosário de Maria Cobucci pelas sugestões; a Embrapa Arroz e Feijão pela estrutura e bolsa auxílio à estagiária; ao Dr. Emílio M. Castro por conceder as amostras e ao Sr. José E. Silva pelo beneficiamento das amostras.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JULIANO, B.O. The chemical basis of rice grain quality. In: WORKSHOP ON CHEMICAL ASPECTS OF RICE GRAIN QUALITY, 1979. Proceedings… Manila: International Rice Research Institute, 1979. p.251-260.

PEREIRA, J.A.; RANGEL, P.H.N. Produtividade e qualidade de grãos de arroz irrigado no Piauí. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v.25, n.3, p.569-575, 2001.

VITTI, P.A. Viscosidade do amido e sua importância nos alimentos. Boletim do Instituto de Tecnologia de Alimentos, São Paulo, v.8, p.69-83, 1966.

DELLA MODESTA, R.C.; CARVALHO, J.L.V.; GONÇALVES, E.B.; VILLAMIL, C.I.; ALMEIDA, N.S.S. Desenvolvimento do perfil sensorial para cultivares de arroz brasileiro. Rio de Janeiro: Embrapa Agroindústria de Alimentos, 1997. 28p. (Embrapa Agroindústria de Alimentos. Boletim de Pesquisa, 21).