Comportamento de construção da REDE de captura na aranha social (Anelosimus eximius)
Sobczak¹, J.F.; BENITE-RIBEIRO, S.A.²
1-Acadêmico da Universidade Federal de Goiás, Campus Avançado de Jataí, Ciências Biológicas, Rod, Br 364, Km 192, Zona Rural, CP 03, Jataí, GO, Cep 75800-000, jbioaranha@hotmail.com.br
2-Adjunto I, Universidade Federal de Goiás, Campus Avançado de Jataí, Dep.Ciências Biológicas, Rod. Br 364, Km 192, Zona Rural, CP 03, Jataí, GO, Cep 758000-000, benite_3@hotmail.com
Palavras-chave: Colônia, Ecologia, Predação.
Introdução
As aranhas, de forma geral, apresentam modo de vida tipicamente solitário. Apesar disso, existem espécies que apresentam um certo grau de socialidade, que pode ser desde o agrupamento em teias individuais até a formação de ninhos coletivos, nos quais há cuidado comunitário da prole (Avilés 1997).
Em algumas famílias de aranhas, como em Agelimidae, Didimidae e Theridiidae, existe um elevado nível de socialidade (Venticinque, 1995). O gênero Anelosimus da família Theridiidae possui 25 espécies. Dentre essas, 6 apresentam comportamento social, habitando teias irregulares em forma de lençol (Levi, 1963). A espécie Anelosimus eximius, que ocorre desde o Panamá até Santa Catarina, (Brasil), vive em colônias que são caracterizadas por teias comunitárias, que podem ocupar vários metros cúbicos (Brach,1975), e exibe um alto grau de socialidade.
Material e método
Este trabalho tem como objetivo observar o comportamento de predação da aranha Anelosimus eximius no cerrado do Brasil Central e descrever as categorias do comportamento de construção da rede de captura.
Foram realizadas 6 observações de campo, totalizando 60 horas, durante os meses de março a junho do presente ano. O ninho utilizado no estudo localiza-se em uma mata de galeria próxima ao rio Claro, no município de Jataí - Goiás, (17º 56' 26" S - 51º 42' 51" W). Ele possui aproximadamente 2 metros de comprimento por 1,5 m de largura, distando 16 metros do curso de água. Para descrever as categorias, mensurou-se o tempo e se observou os processos envolvidos na construção da rede de captura.
O tempo foi determinado usando-se um cronômetro digital que era acionado logo que se identificava a movimentação das aranhas para as bordas do ninho. A atividade de construção desta rede de captura foi dividida em três estágios que foram pré-determinados levando-se em consideração o comportamento mais expressivo durante os momentos observados sendo intitulados de: 1º, 2º e 3º, estágios. As observações iniciaram-se quando as aranhas iniciavam a construção da rede de captura, aproximadamente às 17:00h, e terminava às 19:00h, quando não se observava mais nenhuma movimentação. Nessa atividade foram utilizadas duas lanternas. A luz de uma das lanternas era direcionada para determinado local da rede, no qual desejava-se observar o comportamento realizado e outra lanterna era direcionada para toda a rede de captura. Tal método possibilitava a visualização de vários ângulos da rede e do modo como as aranhas executam a construção da rede de captura.
O tamanho final desta rede de captura era inferido pela mensuração da distância (em centímetros) da base inferior do ninho até o nível superior e da extrema direita à extrema esquerda.
Resultados e discussão
Categorizou-se a construção da rede de captura em três etapas:
A) 1º estágio - Caracteriza-se como primeiro estágio o momento em que as aranhas iniciam o desenvovimento da construção da rede de captura, quando direcionam-se para as bordas do ninho, assim que percebem redução da luminosidade. Aranhas de vários tamanhos colaboram para a construção, desde aranhas muito jovens (pequenas) até aranhas adultas (maiores).
B) 2º estágio - Inicia-se quando uma das aranhas (dentre as maiores), sobe por um fio mestre até a superficie superior ao ninho e desce tecendo um fio de espessura delgada, até atingir o ninho central. Daí em diante inicia-se o comportamento no qual 25% dos individuos presentes na colônia começam a tecer a rede. O restante da colônia permanece no ninho desenvolvendo outras atividades, como cuidando da prole ou alimentando-se de restos de presas.
C) 3º estágio - Nesta etapa a rede de captura já está, aproximadamente, 40% construída. Posteriormente as aranhas fazem da teia de captura uma verdadeira trama, quando os fios que foram tecidos são esticados tomando a forma de Y. Este procedimento continua até a finalização da rede de captura. Após a construção da rede de captura as aranhas retornam para o ninho central à espera de presa.
O inicio da elaboração da teia de captura está diretamente envolvida com a diminuição da luminosidade no local onde as colônias estão instaladas, pois em todas as observações realizadas foi possível constatar que quando diminuía a intensidade luminosa as aranhas davam inicio a construção da rede, por volta de 17:00 horas. Supomos que a elaboração da rede inicia-se com o entardecer, pois deve existir preferência alimentar por presas de hábitos noturnos.
O tamanho final da rede de captura é de aproximadamente 3 metros de altura por 2 metros de largura, e é finalizado às 19:00 h. Supomos também que, o tamanho da rede de captura deve ter relação direta com as dimensões do ninho e, portanto, com o número de individuos da colônia. Isso porque, a quantidade de presas capturadas deve ser suficiente para a população de aranhas em análise e porque em ninhos maiores, observados anteriormente, a rede de captura também era maior. Após o término da construção da rede de captura, todas as aranhas retornam para o ninho central, as aranhas permanecem no ninho central durante toda a noite à espera de que alguma presa se choque contra a rede de captura e venha a cair em seu ninho. Quando isso ocorre, as aranhas se movimentam depressa e apresentam o comportamento de subjugação de presa. A rede de captura não é destruida ou refeita durante a noite, só será destruída no decorrer do dia por causa do vento e reconstruída no dia seguinte.
Conclusões
Supúnhamos que a rede de captura era construída por indivíduos maiores, mas é realizada por indivíduos de qualquer tamanho e inicia-se com o entardecer, indicando uma preferência alimentar por insetos noturnos. Além disso, o tamanho da rede é proporcional à quantidade de indivíduos do ninho e demora, aproximadamente 2 horas para ficar totalmente construída.
Essa rede tem como função obstruir a passagem de presas voadoras, que cairão no ninho central, local onde serão subjugadas e devoradas, pois nenhuma aranha permanece na rede de captura.
Referência bibliográfica:
Avilés, Letícia. Arañas sociales de la Amazonia ecuatoriana, com notas sobre seis espécies sociales no descrita previamente. Revista Chilena de História Natural. Santiago, Chile, v. 74, n. 3, set. 2001.
Brach, V. Anelosimus studiosus (Araneae: Theridiidae) and the evolution of quasisociality in heridiid spiders. Evolution. Lancaster. n. 31, 154-161. 1975.
Venticinque, Eduardo Martins. Dinâmica populacional de Anelosimus eximius (Simon, 1891) (Aranae:Theridiidae) em mosaicos ambientais na Amazônia Central. IB, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Botucatu, 1995.
Levi, Herbert W. The American spiders of the genus Anelosimus (Araneae: Theridiidae). Transactions of the American Microscopical Society. Cambridge ; n. 82, 30-48. 1963.