EFEITOS DE UM PROGRAMA REGULAR DE ATIVIDADE GENERALIZADA SOBRE OS DISTÚRBIOS MOTORES DE UMA PESSOA COM DOENÇA DE PARKINSON

Teixeira, H.K.; De Farias, G.C.; Vieira, M.F.

Faculdade de Educação Física-UFG – marcus@fef.ufg.br

Palavras Chave - Doença de Parkinson, Idoso, Atividade Física e Saúde

1 Introdução

A rigidez, a bradicinesia (movimentos lentos), os tremores e as alterações posturais são distúrbios motores característicos da doença de parkinson que acomete principalmente pessoas idosas, podendo causar sensíveis alterações motoras e psicológicas com a evolução da doença, contribuindo para a debilidade na capacidade funcional do idoso e, conseqüentemente, prejudicando sua autonomia e qualidade de vida. Os problemas físicos são em grande parte resultantes da imobilidade pela idade e doença. Uma pessoa idosa ativa, que pratica atividade física que vá além dos movimentos do cotidiano e do trabalho, possivelmente terá menor pré-disposição para desenvolver complicações clínicas gerais em comparação a uma pessoa idosa inativa (OKUMA,1998).

A atividade física é parte fundamental na preservação e melhoria das funções motoras e nas relações com o bem-estar-psicológico, comumente indicado por sentimentos de satisfação, felicidade e envolvimento do idoso, acometido ou não de doença. Confirmando esta teoria Bromley (1990, apud OKUMA, 1998.p.83) afirma que "as alterações psíquicas e sociais que acompanham o processo do envelhecimento têm como uma de suas bases as alterações que se operam no nível biofísico". Então qualquer intervenção que promova a expectativa de vida em todos os aspectos depende muito da melhora das bases físicas do comportamento, comprovando os aspectos biológicos sobre os psicológicos das pessoas idosas.

Um fator importante para o bem-estar psicológico e para a qualidade de vida do idoso é a manutenção de sua independência - decidir por si só -, e sua autonomia - competência para o domínio do ambiente. Para realização das atividades da vida diária (AVD) e as atividades instrumentais da vida diária (AIVD), bem como, reconhecer e lidar com o próprio corpo e com seu processo de envelhecimento e doença (OKUMA,1998).

Considerando que poucos estudos abordam os efeitos de um programa regular de atividade física generalizada, pensamos ser relevante analisar e utilizar um programa de atividade física relacionado à saúde, para alcançar a melhoria das capacidades físicas e emocionais de uma idosa parkinsoniana. Uma dessas vantagens é proporcionar a ela uma variedade de rotinas motoras, apresentando diversas opções em termos de tarefas motoras, oportunizando não apenas a diminuição da monotonia de uma mesma rotina semana após semana, mas, sobretudo, aumentando a probalidade de atender às suas diferenças individuais (GUEDES & GUEDES, 1993).

Porém para que um programa de atividade física contribua para que o idoso mantenha-se ativo e participativo socialmente, os profissionais de educação física e áreas afins devem primeiramente entender o que é o ser idoso e suas estruturas existenciais para que sua ação pedagógica aponte para as necessidades reais e pessoais do indivíduo e não para a realidade de quem o institui.

Segundo Okuma (1998) um ponto fundamental para o desenvolvimento de comportamento e atitudes positivas em face da atividade física é respeitando as experiências humanas. Compreendendo que para cada indivíduo, há algo especial, relacionado ao contexto pessoal de vida que pode estimulá-lo ou não a essa prática.

O programa de atividade física primou pelo respeito às diferenças individuais da aluna, por sua aceitação como legítima na convivência, e de seu ser no mundo com o seu corpo, num determinado espaço de atividades e num tempo propício, que contribuiu para a melhora de suas capacidades físicas e qualidade de vida.

2 Metodologia

A investigação envolveu uma pessoa idosa de 69 anos, do sexo feminino (neste trabalho identificada com o nome fictício de Dona Lúcia), viúva há onze anos e que há dez anos identificou os primeiros sintomas da doença de parkinson. O estudo foi realizado em Goiânia no Setor União, na residência da aluna e no Centro Goiano de Neurologia e Neurocirurgia, situado no Setor Sul, rua 83 nº133.

Antes de iniciar as atividades, foi realizada uma avaliação médica prévia, sendo o sujeito considerado apto a desenvolver as atividades desse programa.A coleta de dados foi obtida por meio de observações sustentadas e registradas (guiadas por um corpo de conhecimento), entrevista não-estruturada e semi-estruturada e o memorial descritivo. Fazendo uso de um roteiro de observações, os observadores utilizaram um teste de exame motor (BRITO,1998) que identifica o nível de capacidade do sujeito em realizar movimentos comprometidos pela doença, registrando a capacidade da aluna para se levantar da cadeira; para caminhar; para executar movimentos de amplitude, de movimentação e estabilidade.

O programa de atividade física pautou-se por uma abordagem educacional, além de visar dar ao sujeito com a doença condições para se cuidar. O programa de atividade física generalizada tem como objetivo levar o aluno a: 1) Aprender sobre a importância da atividade física no processo de evolução da doença; 2) Perceber quais atividades físicas são mais adequadas para si e como realizá-las; 3) Melhorar sua capacidade funcional e aptidão física e suas condições de saúde física e mental; 4)Transferir para o cotidiano os novos conhecimentos, integrando-os a sua vida; 5) Melhorar sua qualidade de vida. O conteúdo desenvolvido nas aulas práticas foi o seguinte: 1) Atividades de alongamento ativo e passivo, realizadas na posição horizontal ou vertical; 2) Atividades de relaxamento, massagem; 3) Atividades de expressões faciais; 4) Atividades aeróbias; 5) Atividades respiratórias; 6) Atividades para melhorar a força dos membros superiores e inferiores; 7) Atividades para melhorar o controle motor (agilidade, tempo de reação e de movimento e equilíbrio);

8) Participar de jogos recreativos, que estimulem a memória, raciocínio e ofereça prazer e 9) Trabalhos manuais com argila, pintura com giz de cera e colagem.

3 Resultados e Discussão

Um exame inicial com a aluna, logo no início do programa, revelou que alguns dos movimentos considerados essenciais para a realização das atividades instrumentais e da vida diária, tais como caminhar, levantar-se, vestir-se, cozinhar, etc, quando são solicitados, acontecem de forma bem limitada, podendo comprometer a capacidade de realizar tais atividades.

No início do programa, a aluna sentia sérias dificuldades motoras de coordenação, equilíbrio, amplitude de movimento, flexibilidade e aumento do tremor quando realizava movimentos que necessitassem levantar o pé do chão como dançar, brincar de balão ou de bola chutando-o ou batendo-o com a mão, brincadeiras que necessitassem agilidade; porém se sentia satisfeita em estar experimentando novos movimentos. Após dois meses do programa, as dores na coluna e nas pernas tinham diminuindo, a capacidade de caminhar distâncias maiores que um quarteirão já era possível, porém ainda arrastando o pé esquerdo. Já era capaz de levantar-se da cama sem ajuda, entretanto demorava em se levantar, necessitando de mais de uma tentativa.

No quarto mês a aluna relatou que estava tendo mais facilidade para pentear seu cabelo, porque antes ela sentia dores, cansaço e dificuldade para levantar o braço, caracterizando fraqueza muscular e rigidez das articulações. No último mês já estávamos caminhando não só no bairro dela, mas indo até o bairro do seu filho que corresponde a uns 15 quarteirões de sua casa, uma caminhada de 45 minutos.

Uma outra avaliação foi realizada no Centro Goiano de Neurologia e Neurocirurgia pela neurologista relatando que após seis meses de um Programa Regular de Atividade Física generalizada a paciente "melhorou muito sua capacidade de movimentação, melhora do equilíbrio, tônus e rigidez".

O programa de atividade física, juntamente com o papel do professor e da equipe contribuiu muito para a melhora da aluna, porém nada somos sem o apoio da família e seríamos muito mais com a sua participação, unindo forças a favor de reafirmar a importância do ser idoso na família e na sociedade.

4 Conclusão

De acordo com os resultados do estudo, pode-se concluir que um Programa Regular de Atividade Física Generalizada, portanto não específico para qualquer capacidade física ou habilidade motora, desenvolvido por um período de seis meses direcionado para uma pessoa idosa com a doença de Parkinson é capaz de, melhorar as capacidades físicas, elevando o nível de flexibilidade, agilidade, marcha e equilíbrio com subseqüente melhora desses níveis. Tal conclusão é de extrema importância para pessoas idosas com a doença de Parkinson, uma vez que um bom nível dessas capacidades físicas contribuiu parcialmente para a manutenção da autonomia nas atividades da vida diária e das atividades instrumentais da vida diária. A respeito das alterações emocionais podemos concluir que, estas ainda persistem, porém com a ajuda da ação pedagógica do professor o sujeito partiu para a descoberta de si mesmo, ao autoconhecimento, para que possa sempre atualizar suas potencialidades e reconhecer-se como singular.

Ao refletir sobre a experiência feita como professora de Educação Física tal pesquisa levou-me a compreensão melhor do Ser idoso e suas implicações, contudo, para entendê-lo mergulhei na vivência do sujeito, em busca de uma mudança em sua estrutura existencial. Este mergulho possibilitou-me vislumbrar um novo horizonte. A relevância da pesquisa foi determinada não só pelas melhoras nas capacidades físicas, mas pela importância que a aluna considera o trabalho.

Referências

BRITO, M. Boletim da doença de Parkinson. Aprendendo a conviver com o mal de Parkinson. Revista Momento (on line) Jan/Fev 1998. Disponível na Internet: [mabrito@doecadeparkinson.com.br].Acesso em: 04 nov.2003.

GUEDES, D.P. e GUEDES, J.E.R.P. Subsídios para implementação de programas direcionados à promoção da saúde através da educação física escolar. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina, Londrina, v.7, n.15, p.3-11,1993.

OKUMA, S.S. O idoso e atividade física. São Paulo: Papirus, 1998.