PERFIL DOS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO LEVADOS À CAMPANHA NACIONAL DE VACINAÇÃO ANTI-RÁBICA EM APARECIDA DE GOIÂNIA, ESTADO DE GOIÁS, 2004

JAYME, V. S1; SOUZA, A. M.; TOMAZ, L. A. G.; LIMA, F.G.,

BARBOSA, C.E., MARQUES, A. E.

Escola de Veterinária – Universidade Federal de Goiás

1valeria.mg@uol.com.br

PALAVRAS-CHAVE: perfil, animais de estimação, vacinação anti-rábica, Aparecida de Goiânia.

INTRODUÇÃO

A raiva é uma zoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico, contido na saliva do animal infectado, principalmente através da mordedura. Apresenta uma letalidade de 100% após o início dos sintomas e alto custo na assistência preventiva às pessoas expostas ao risco de infecção. Em 1996, o município de Aparecida de Goiânia, Goiás, apresentou elevado número de casos de raiva animal no meio urbano, notadamente na espécie canina, com 177 casos registrados. Com a criação do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) no mesmo ano, aliada ao Projeto de Extensão "Controle da Raiva Animal em Aparecida de Goiânia" da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (EV/UFG), houve um declínio progressivo dos casos da zoonose notificados no município, sendo que desde 2002 não houve mais registros. A vacinação animal representa uma das estratégias de controle, de alta efetividade quando mantida em níveis adequados de imunização populacional e em caráter constante. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a população canina de uma localidade corresponde, em média, a 10% da população humana de um município. Em Aparecida de Goiânia tal proporção é ampliada, estimando-se que haja uma população canina em torno de 20% da população humana. O grande número de animais agrava as dificuldades referentes ao controle e à prevenção da raiva animal e humana no município, bem como de outras zoonoses de importância em saúde pública. Anualmente, em setembro, é realizada no município a Campanha de Vacinação Anti-Rábica Canina, em parceria com a EV/UFG e a Prefeitura de Aparecida de Goiânia, envolvendo pessoas da comunidade de Aparecida de Goiânia e acadêmicos de Medicina Veterinária da EV/UFG, distribuídos em 130 postos fixos sob a supervisão de 25 equipes. Paralela à esta atividade, faz-se necessária a adoção conjunta de outras medidas para o controle da zoonose e a manutenção dos patamares alcançados, visando sua futura erradicação. Para tal torna-se relevante estabelecer o perfil dos animais assistidos, o que se reveste de importância para orientar as ações desenvolvidas no município.

MATERIAL E MÉDODO

Foi elaborado um questionário contendo 30 questões referentes ao animal, incluindo aspectos como sexo, idade, porte, pelagem, raça, origem, padrões criatórios e sanitários. Durante a Campanha Nacional de Vacinação Anti-Rábica (2004) foram selecionados, ao acaso, 110 proprietários, que esclarecidos sobre o estudo, demonstraram concordância em participar. A cada um foi aplicado um questionário fechado, que havia passado previamente por uma fase piloto para ajustes. As informações obtidas foram posteriormente tabuladas e analisadas e apresentadas de forma descritiva.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento mostrou que 97,0% dos animais eram da espécie canina, com apenas 2,8% de felinos. Os indivíduos machos totalizaram 52,2% e as fêmeas 47,8%. As idades dos animais variaram de: até seis meses (9%); de seis a 12 meses (12,6%), de um a dois anos (23,4%), de dois a três anos (14,5%) de três a cinco anos (17,1%), de cinco a oito anos (7,2%) de oito a 10 anos (5,4%), ressaltando-se que 9,9% dos proprietários não souberam informar a idade de seus animais. Quanto ao porte, 44,1% foram classificados como de pequeno porte, 35,1% como médio porte e 20,8% de grande porte. 67,5% dos indivíduos corresponderam a animais de pelagem curta; 27,0% à média e 5,5% à longa. Como esperado, houve predomínio de cães sem raça definida (SRD), representando 54,9%, sendo que aqueles classificados como de raça definida pelos proprietários nem sempre o foram pelo avaliador. As raças predominantes foram Pinscher e Fila Brasileiro, tendo-se notado o crescimento de interesse pela raça Pitbull. A aquisição de animais por doação foi relatada em 71,9% dos casos, tendo sido registrados percentuais de 14,9% por compra e 1,8% de animais encontrados, registrando-se que 11,4% dos proprietários não souberam informar a origem do animal. Em relação às Campanhas de Vacinação Anti-Rábica, 32,4% foram vacinados pela primeira vez em 2004, 63,9% já haviam sido vacinados anteriormente e 3,7% dos proprietários não souberam informar sobre esta condição. Dos animais vacinados mais de uma vez, 31,1% receberam a segunda dose neste citado ano, 23,3% receberam a terceira dose, 15,5% a quarta dose; 6,4% a quinta dose, 6,4% a sexta dose e 5,1% receberam dose superior à sexta dose, aspecto correspondente à idade dos animais e que demonstrou a regularidade de inserção nas campanhas. Por outro lado, 12,2% dos proprietários não souberam responder quantas doses seus animais já haviam recebido.No caso de interrupção em vacinações anteriores, em 12,9% foi relatada falha em uma ou mais vacinações, mas 79,0% dos proprietários informaram nunca terem interrompido a vacinação de seus animais, o que mostrou-se consonante com a informação anterior e constituiu-se em informação relevante para a avaliação do processo. Reforçando a importância da atividade, obteve-se a informação final que 72,9% dos animais são vacinados apenas em campanhas, sendo que os demais 27,1% foram vacinados, também, em consultórios ou clínicas veterinária (40,0%), em lojas de produtos veterinários (50,0%) e 3,3% em seu domicílio, com vacina adquirida em estabelecimentos comerciais. Animais vacinados contra outras enfermidades corresponderam a 53,1%, enquanto os; não vacinados a 30,6%, devendo-se destacar que 16,3% dos proprietários não souberam responder se o animal já recebeu outra vacina. A vermifugação foi relatada em 79,2% dos casos, mas 13,5% dos animais nunca receberam algum anti-parasitário e 7,3% dos proprietários não souberam responder. Tais resultados que, em uma primeira análise poderiam ser considerados satisfatórios são, no entanto, diretamente comprometidos pela freqüência das aplicações, que raramente seguiram calendários profiláticos adequados. Demonstrando tal afirmação, ressalta-se que nos animais vermifugados, foi informada a freqüência de uma única aplicação em 12,5% dos animais, aplicação esporádica em 10,2%; uma vez por ano em 13,6, semestralmente em 21,5% e duas vezes por semestre somente em 29,5% dos animais incluídos no estudo. Quanto à alimentação, obteve-se a informação que 59,5% dos animais recebiam ração, 35,1%, comida caseira para consumo humano, 2,7%, comida caseira preparada para o animal e 2,7% tinham outro tipo de alimentação. A freqüência de fornecimento de alimento variou de uma vez ao dia em 25,2% dos casos, duas vezes ao dia em 52,2%, três vezes em 5,4%, acima de três vezes em 9,1%, enquanto 8,1% dos animais recebiam alimentação ad libidum. O fornecimento de água tratada foi relatado para 73,8% dos animais, sendo que para os demais a água provinha de poços freáticos (cisternas), tendo predominado a conduta de troca diária da água dos bebedouros, registrada em 63,9% dos casos. Ao se avaliar o acesso dos animais à rua, foi registrado que 56,7% dos cães têm acesso às mesmas, sendo que destes, 18,6% saem desacompanhados dos donos, 5,6%, acompanhados e soltos e 75,8% conduzidos por guia, com locais de passeio preferenciais representados por ruas (90,6%) e praças (4,7%), o que se torna importante pelos potenciais riscos de agressão a outros animais e pessoas e de contaminação, por urina, fezes e outras excreções/secreções de locais públicos, devendo-se ressaltar que 20,8% dos animais integrantes deste estudo urinam/defecam fora de seus locais de residência. A questão de risco de agressão torna-se preocupante quando os próprios proprietários informaram que 21,5% dos animais mostram-se agressivos fora de seus domicílios, apesar de 68,5% mostrarem-se sociáveis, 5,5% amedrontados e 4,4% arredios. Tal aspecto pode ser agravado pelo fato de 95,5% dos animais nunca terem recebido algum tipo de adestramento ou treinamento por profissional. Em relação a doenças prévias, foi informado que 26,1% dos animais nunca adoeceram, enquanto 73,5% já sofreram alguma enfermidade. Destes, 51,7% foram tratados em clínicas, consultório ou hospital veterinário, 34,4% em loja de produtos veterinários, 10,3% foram tratados em casa e em 3,6% dos casos ‘o proprietário não soube informar.

CONCLUSÕES

Nas condições da presente pesquisa, constatou-se que predominam em Aparecida de Goiânia, Goiás, animais da espécie canina, machos, com idade até dois anos, alimentados com ração industrial, vacinados somente contra raiva, em campanhas oficiais anuais, vermifugados de forma inadequada, que já apresentaram alguma enfermidade e que têm acesso à rua. Estas últimas características sinalizaram para a necessidade de ações de educação em saúde, visando a redução de potenciais riscos à saúde de outros animais e à saúde pública. O conjunto de informações obtidas oferecerá subsídios para novos estudos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TRHUSFIELD, M.V. Epidemiologia veterinária. Zaragoza: Acribia, 1 ed, 1990. 229 p.

Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Centro Nacional de Epidemiologia. Guia de Vigilância Epidemiológica / Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, Centro Nacional de Epidemiologia, 1994. 373 p. il.