CARACTERIZAÇÃO DE PROPRIETÁRIOS DE ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO PARTICIPANTES DA CAMPANHA NACIONAL DE VACINAÇÃO ANTI-RÁBICA EM APARECIDA DE GOIÂNIA, ESTADO DE GOIÁS, 2004

JAYME, V. S1; SOUZA, A. M.; TOMAZ, L. A. G.; MATOS, R. C. S.;

RODRIGUES, M. B.; RIBEIRO, R. S.; AZEVEDO, F. C.

Escola de Veterinária – Universidade Federal de Goiás

1valeria.mg@uol.com.br

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização, proprietários, animais de estimação, vacinação anti-rábica.

INTRODUÇÃO

O município de Aparecida de Goiânia, localizado na Região Metropolitana de Goiânia, Goiás, tem uma população estimada em 401.000 habitantes, segundo dados da Secretaria Municipal de Planejamento, sendo aproximadamente 399.997 (99,75%) na área urbana e 1002 (0,25%) na área rural. O elevado número de migrantes resultou em composição demográfica heterogênea, com parcela considerável, de aproximadamente 80%, composta de população de baixa renda. A raiva é uma zoonose transmitida ao homem pela inoculação do vírus rábico, contido na saliva do animal infectado, principalmente pela mordedura. Apresenta uma letalidade de 100% após o início dos sintomas e alto custo na assistência preventiva às pessoas expostas ao risco de infecção. Em 1996, o município apresentou o maior número de casos de raiva animal da América Latina (177 canina; oito felina; dois bovina; um primata), sendo que com a criação do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) no mesmo ano, aliado ao Projeto de Extensão "Controle da Raiva Animal em Aparecida de Goiânia" da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (EV/UFG) houve um decréscimo progressivo nos casos de raiva no município, com ausência de registros da enfermidade desde 2002. Anualmente, em setembro, é realizada a Campanha de Vacinação Anti-Rábica Canina em parceria com a EV/UFG e a Prefeitura de Aparecida de Goiânia, envolvendo pessoas da comunidade de Aparecida de Goiânia e acadêmicos de Medicina Veterinária da EV/UFG, distribuídos em 130 postos fixos sob a supervisão de 25 equipes. Com o progressivo controle e eliminação da raiva animal, em especial a canina, a melhoria do sistema de vigilância epidemiológica, visando prevenir a reintrodução da doença ou permitir a rápida identificação de possíveis casos, impedindo sua propagação, assume dimensão relevante. Entretanto, a importância de incrementar a vigilância quando se consegue interromper a cadeia de transmissão da raiva canina nem sempre é valorizada pelas autoridades competentes. Observa-se que a Organização Mundial de Saúde preconiza que a população canina de uma localidade corresponde, em média, a 10% da população humana do município. Ressalta-se, porém, que há uma superpopulação de cães em Aparecida de Goiânia, estimando-se que esteja em torno de 20% da população humana. O grande número de animais agrava as dificuldades referentes ao controle e prevenção da raiva animal e humana no município. Neste contexto, faz-se relevante o levantamento de aspectos sócio-econômicos-culturais dos proprietários desses animais, envolvendo, dentre outros, seus hábitos de criação, conhecimento em saúde e histórico de agressões. Assim, sua caracterização, bem como o perfil dos animais envolvidos, torna-se ferramenta determinante para o sucesso das ações de vigilância epidemiológica no município.

MATERIAL E MÉTODO

Foi elaborado um questionário fechado contendo 27 questões com informações referentes ao proprietário do animal, incluindo seus hábitos de criação, comportamento em relação aos animais, histórico de agressões ocorridas e conhecimento sobre enfermidades dos animais. Foi feito um teste piloto para adequação do mesmo e, seqüencialmente, foram aleatoriamente selecionados 110 proprietários durante a Campanha Nacional de Vacinação Anti-Rábica 2004, os quais foram esclarecidos sobre o estudo e concordaram em participar do mesmo. Os postos onde aplicaram-se os questionários foram escolhidos ao acaso, observando-se uma localização que abrangesse áreas diferenciadas do município. Definidos os postos, um aluno da EV/UFG foi designado para cada posto e entregue um número de formulários proporcional à freqüência média esperada de proprietários para aquele posto, segundo estimativas do CCZ de Aparecida de Goiânia. Posteriormente, as informações obtidas foram tabuladas e analisadas com auxílio do Programa Excell.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos serão seqüencialmente registrados de forma somente descritiva. O levantamento revelou que 53,2% dos indivíduos são naturais de Aparecida de Goiânia e 46,8% migrantes de diversas regiões de Goiás e de outros Estados. A porcentagem de proprietários do sexo masculino foi de 52,2%, enquanto 47,8% corresponderam ao sexo feminino. Quanto à idade, 1,8% tinham até 10 anos; 27%, de 11 a 20 anos; 46%, de 21 a 40 anos; 18,9%, de 41 a 60 anos e 6,3% acima de 60 anos. Os não alfabetizados representaram 1,8%; 35% possuíam o ensino fundamental incompleto; 17% completaram apenas o ensino fundamental; 15,3% informaram ter o ensino médio incompleto; 18,9% completaram o ensino médio e 12% corresponderam a graduados em algum curso superior. Para 83,7% dos entrevistados o hábito de criar animais de estimação constituía-se em uma prática comum, já 16,3% informaram possuir um animal pela primeira vez. Os que possuem mais de um animal na residência somaram 66,7% e 33,3% disseram ter um único animal. Em 18,9% dos casos os proprietários estavam participando pela primeira vez da campanha de vacinação, mas 81,1% já haviam levado o animal em mais de uma campanha. Os motivos destacados para a criação de um animal de estimação foram principalmente companhia (60,4%) e segurança (33,3%). Corroborando tal afirmação, ao definir seus animais, 17,9% os consideraram principalmente como vigia, porém, 50,4% os definiram como amigo e 31,7% como membros de sua família. Os indivíduos que nunca sofreram qualquer agressão por animais representaram 59,5%. Já 6,3% foram agredidos pelo próprio animal, 1,8% por outro animal de sua propriedade, 22,5% por animal conhecido e 9,9% por animal desconhecido. Quando agredidos 20,0% dos proprietários tomaram providências; 24,4% tiveram apenas cuidados domésticos e 55,6% buscaram cuidados médicos. Dentre estes últimos, 20,0% tiveram as lesões somente medicadas topicamente, enquanto 6,7% necessitaram de cuidados cirúrgicos. Em 60% foi aplicado esquema de vacinação; em 13,3 adotaram-se outros tratamentos e em nenhum foi utilizado soroterapia anti-rábica. Em relação à conduta com os animais agressores, em 44,4% dos casos não foi adotada qualquer conduta; 33,3% foram mantidos em observação na sua origem; 5,6% não foram localizados e 16,7% dos proprietários não souberam informar o que ocorreu. Quanto às enfermidades que acometem a espécie canina que são de conhecimento dos proprietários, foram citadas somente a: parvovirose, 28,1%; raiva, 20%; dermatopatias, 8,7%; cinomose, 6,8%; babesiose, 3,7%; verminoses, 2,5%; pneumonia, 1,8%; neoplasias, 1,2%; otite, 1,2%; catarata, 0,6%; displasia, 0,6%; leptospirose, 0,6%; avitaminose, 0,6%; insuficiência renal, 0,6%; obesidade, 0,6% e cardiopatias, 0,6%; destacando-se que 21,0% dos proprietários não souberam responder à questão. Sobre enfermidades que acometem gatos foram apontada: toxoplasmose, 5,8%; raiva, 5,8%; dermatopatias, 4,9%; asma, 3,8%; leptospirose, 0,9% e doenças respiratórias, 0,9%, sendo que 77,9% não responderam. Na concepção dos proprietários, as espécies apontadas como as mais importantes atualmente na transmissão da raiva foram, por ordem, os cães (38,5%), os morcegos (23,3%), os gatos (17,7%) e os ratos (13,7%).

CONCLUSÕES

Os resultados obtidos, nas condições do estudo, demonstraram o predomínio de proprietários com menor formação escolar, aspecto que, dentre outros, pode ter contribuído para o conhecimento apenas parcial ou mesmo o desconhecimento de aspectos importantes envolvendo a raiva, destacando-se o quadro de pessoas agredidas que não buscaram assistência médica e o não acompanhamento de animais agressores. Considerando-se a inquestionável importância desta zoonose, especialmente quanto à saúde pública, torna-se evidente a necessidade de maiores ações de educação em saúde na comunidade, destacando-se que tais ações serão facilitadas pela valorização assumida pelos animais de estimação por parte dos proprietários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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