FLUTUAÇÃO POPULACIONAL DE ARTRÓPODES EM FEIJOEIRO TRANSGÊNICO E NÃO TRANSGÊNICO
PINHEIRO, P. V.1; QUINTELA, E. D.1; BATISTA, V. C. S.1,2 ;FARIA, J. C.1
1 Embrapa Arroz e Feijão, Rod. Goiânia a Nova Veneza Km 12, C. Postal 179, 75375-000, Santo Antônio de Goiás, GO. E-mail: patricia@cnpaf.embrapa.br
2 Bolsista CNPq.
Palavras-chave: feijão GM, Vírus do Mosaico Dourado do Feijoeiro, Bemisia tabaci, impacto ambiental
Introdução
Uma das principais doenças do feijoeiro é causada pelo Vírus do Mosaico Dourado do Feijoeiro (VMDF), que é transmitido pela mosca branca Bemisia tabaci biótipo B. O Mosaico Dourado vem causando sérios prejuizos em diversas regiões produtoras de feijão no país. O manejo da doença tem sido realizado tradicionalmente pelo controle do vetor, usando agrotóxicos, o que, em algumas situações, não tem sido eficiente devido à alta capacidade deste inseto em adquirir resistência aos inseticidas.
A Embrapa, desenvolveu uma tecnologia para solucionar este problema ao obter uma cultivar de feijão geneticamente modificado (GM) para resistência ao Vírus do Mosaico Dourado. As plantas transgênicas de feijoeiro estão no momento na décima geração, apresentando o mesmo comportamento de resistência à doença (Aragão & Faria, 2004).
Algumas modificações genéticas alteram também o fenótipo da planta de origem, o que poderia causar efeito negativo sobre populações de organismos não-alvo, resultando em desequilíbrio ecológico. No entanto, para essa cultivar de feijão GM, até o momento não foram observados efeitos epigenéticos. Apesar disso, estudos devem ser conduzidos para demonstrar a segurança dessa nova tecnologia para o meio ambiente. Neste trabalho, a flutuação populacional de moscas brancas e outros artrópodes em feijoeiro GM foi comparada ao convencional a campo.
Material e Métodos
As avaliações do impacto do feijoeiro transgênico no ambiente foram conduzidas na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antonio de Goiás, com autorização dos órgãos competentes. O plantio de feijão cv. Olathe Pinto geneticamente modificado (GM) e convencional foi realizado em 24/03/2004 no espaçamento de 50 cm em parcelas de três linhas com 3 m de comprimento em 10 repetições por tratamento. Após a emergência das plantas foram realizadas amostragens semanais em 2 m de linha por parcela, anotando-se todos os indivíduos encontrados na parte inferior e superior das folhas. Após o estágio de quatro folhas trifoliadas, utilizou-se o pano-de-batida, em dois pontos por parcela, anotando-se as espécies caídas no pano. Semanalmente, foram coletadas dez folhas por parcela para contagem de ovos e ninfas de mosca branca B. tabaci e outras espécies em laboratório, com auxilio de microscópio estereoscópico. Em 12/04/2004, foi realizada uma pulverização com Chlorpyrifós 480 BR para controle das vaquinhas Cerotoma arcuata e Diabrotica speciosa.
Resultados e Discussão
Nas amostragens de campo foram encontradas as seguintes espécies: mosca branca (Bemisia tabaci biótipo B), vaquinhas (C. arcuata e D. speciosa), larva minadora (Liriomyza sp), tripes (Thrips palmi e Caliothrips brasiliensis), percevejos (Neomegalotomus parvus, Piezodorus guildinii e Nezara viridula), cigarrinha verde (Empoasca kraemeri), lagarta das folhas (Urbanus proteus) e predadores como aranhas, joaninhas, nabis, Geocoris e Callida. A densidade populacional de artrópodes pragas foi sempre maior no feijão convencional do que no transgênico em todas as datas de amostragem (Figura 1). Foi encontrado número semelhante de predadores nos dois tratamentos (Figura 1). O número de adultos da mosca branca foi maior no feijoeiro convencional somente na primeira avaliação do dia 06/04/2004 (Figura 2.). No geral, o número de vaquinhas da espécie C. arcuata foi maior no feijão convencional comparado ao GM, sendo que em três das oito datas de amostragens essa diferença foi significativa (Figura 3). Nas avaliações feitas no laboratório, as espécies encontradas nas folhas de feijão GM e convencional foram mosca branca (ovos e ninfas), minadora, tripes, pulgões, ácaro branco, lagarta cabeça de fósforo e ovos de predadores, como aranhas e Crysoperla sp. Nestas avaliações, não houve diferença significativa entre o feijão GM e o convencional para o número de predadores e para o número de ovos e ninfas da mosca branca (Figura 4). Os resultados encontrados estão bem próximos do esperado, já que essas plantas de feijão foram modificadas geneticamente para resistência ao vírus e não ao seu vetor. O mecanismo de resistência utilizado torna essas plantas mais seguras do ponto de vista ambiental do que aquelas modificadas por engenharia genética para resistência aos insetos, através da expressão de toxinas, por exemplo.
Figura 1. Número médio de pragas e predadores em feijoeiro transgênico e não transgênico por data de amostragem.
Figura 2. Número médio de adultos de Bemisia tabaci biótipo B em feijão transgênico e não transgênico por data de amostragem.
Figura 3. Número médio de vaquinhas Cerotoma arcuata por data de amostragem em feijoeiro transgênico e não transgênico.
Figura 4. Ovos de mosca branca Bemisia tabaci Biótipo B em folhas de feijão transgênico e não transgênico.
Conclusão
O feijoeiro transgênico não apresentou impacto negativo quanto à diversidade de espécies em relação ao feijoeiro convencional. Estes resultados referem-se apenas ao primeiro experimento com feijão GM e deverão ser confirmados em novos experimentos a campo.
Referências Bibliográficas
ARAGÃO, F. J. L & FARIA, J. C. Obtenção de feijoeiro resistente ao vírus do mosaico dourado . Prêmio Péter Murányi 2004.. Associação Nacional de Biossegurança: http://www.anbio.org.br/noticias/francisco_aragao.htm
FONTES, E. M.G.; PIRES, C. S.S.; SUJII, E. R. & PANIZZI, A. R. The environmental effects of genetically modified crops resistant to insects. Londrina, PR, Brasil: Neotropical Entomology, 31(4), p. 497-513, 2002.