Avaliação das alterações bioquímicas de bovinos alimentados com capim Brachiaria ou Andropogon* - Resultados parciais*
QUEIROZ, J. A. C. C. de; Garcia, E. C.; MASCARENHAS, L. A.; SANDRINI, C. N. M; BANYS, V. L.; fioravanti , M. C. S.
Universidade Federal de Goiás, Campus de Jataí, Curso de Medicina Veterinária
e-mail: cissanm@yahoo.com.br
* Projeto financiado pelo CNPq
Palavras-chave: aspartato aminotransferase; bilirrubina total; esporidesminotoxicose; gama glutamiltransferase.
INTRODUÇÃO
As pastagens de gramíneas e leguminosas forrageiras são a maior fonte de alimentação para o gado de corte e leiteiro e, em alguns sistemas de produção representam a única fonte de alimento (PERALTA-HEISECKE, 1998). A maioria dos casos de esporidesminotoxicose descritos no Brasil ocorreu em bovinos em pastos de Brachiaria decumbens, pois o capim favorece a formação de ambiente com microclima adequado à esporulação do fungo. A esporidesminotoxicose é uma intoxicação causada pela micotoxina esporidesmina, que é produzida pelo fungo Pithomyces chartarum. As perdas econômicas são significativas em todas as formas da doença (aguda, subaguda e crônica), bem como insidiosamente nas formas subclínicas (CAMARGO et al., 1976; DOBEREINER et al., 1976; NOBRE & ANDRADE, 1976; CINTRA et al., 1977; ANDRADE et al., 1978; FAGLIARI, 1993). A lesão hepatobiliar é o resultado da excreção da esporidesmina não conjugada na bile e a conseqüente irritação do tecido mesenquimal na tríade portal e em torno dos ductos biliares (KELLY, 1993). Por ser o fígado o órgão mais atingido pela esporidesmina, as análises dos níveis de algumas enzimas e produtos da excreção fornecem parâmetros bioquímicos para a avaliação da toxicose.
OBJETIVO
O objetivo do trabalho foi a verificação da presença de lesões hepáticas em bovinos, mantidos sobre braquiária ou andropógon por meio da avaliação de parâmetros bioquímicos.
MATERIAL E MÉTODOS
Os animais utilizados foram provenientes de uma propriedade rural situada na região Sudoeste do Estado de Goiás, num total de 50 bovinos da raça Nelore, com a mesma idade, desmamados na mesma época e separados em dois lotes de 25 animais. Um dos lotes foi alimentado exclusivamente com braquiária (Brachiaria decumbens) e o outro lote com andropógon (Andropogon gayanus). Avaliações na propriedade foram realizadas de 45 em 45 dias no período de maio de 2003 a janeiro de 2004, perfazendo um total de cinco colheitas enumeradas de 1 a 5. A cada visita efetuou-se a colheita das amostras sangüíneas por punção da veia jugular utilizando tubos vacutainerâ sem anticoagulante obtendo 10mL de sangue destinado à realização das provas de função hepática. As atividades enzimáticas foram determinadas ou tiveram seus valores corrigidos para a temperatura de 37oC; utilizando-se reagentes comerciais padronizados (LABTESTâ ). Foram determinadas as concentrações da AST (aspartato aminotransferase), GGT (gama glutamiltransferase) e bilirrubina total. A análise de variância foi realizada utilizando-se do pacote computacional SAEG descrita por EUCLYDES (1983).
Resultados e discussão
Não houve diferença significativa (p > 0,05) entre os grupos estudados, considerando a média geral das cinco colheitas, quanto a AST: 41,28 ± 0,80 UI/L (variando de 42,62 a 40 UI/L); GGT: 31,43 ± 4,30 UI/L (variando de 38,86 a 23,77 UI/L) e bilirrubina total: 0,41 ± 0,09 mg/dL (variando de 0,58 a 0,24 mg/dL para o grupo braquiária; e para o grupo andropógon, AST: 41,29 ± 0,56 UI/L (variando de 42,40 a 40,20 UI/L); GGT: 32,13 ± 5,41 UI/L (variando de 42,58 a 20,65 UI/L) e bilirrubina total: 0,43 ± 0,11 mg/dL (variando de 0,60 a 0,18 mg/dL), respectivamente. GREGORY et al. (1999), encontraram para animais com idade entre 12 a 24 meses valores médios para AST de 31,45 ± 7,45 UI/L (variando de 21,30 a 50 UI/L) e para GGT de 10,60 ± 3,30 UI/L (variando de 4,60 a 20,80 UI/L), ambos menores que os resultados aqui observados. MORAIS et al. (2000) observaram no mês de outubro em vacas aneloradas sadias sobre Brachiaria decumbens valores médios de AST de 52,05 UI/L e de bilirrubina total de 0,74 mg/dL. Observaram também, valores médios anuais de AST 62,29UI/L e bilirrubina 0,689 mg/dL. Para AST, ZALDÍVAR et al. (1989) encontraram média de 27,4 UI/L para vacas normais e, FLORES et al. (1990) obtiveram valores de 52,1UI/L no pré-parto e de 56,5UI/L no pós-parto e CONTRERAS et al. (1991) observaram variação de 26,4 a 33,4UI/L nos valores de AST em vacas leiteiras. Houve diferença significativa (p < 0,05) entre as médias de AST referentes às colheitas de outubro e novembro. O valor médio de AST encontrado para o grupo braquiária na colheita três em outubro foi de 35 ± 16,43 UI/L (variando de 44 a 0 UI/L)
e para o andropógon foi de 41,92 ± 0,79 UI/L (variando de 43 a 39,5 UI/L). O valor de AST indica lesão hepática aguda por estar presente na forma de enzima no citossol e vazar mais rapidamente para a circulação sangüínea (DIRKSEN, et al., 1990). Estes aumentos podem ser atribuídos a presença da esporodesmina nas pastagens mal manejadas (excesso de matéria vegetal morta em decomposição) no início das águas, quando o fungo (Pithomyces chartarum) encontra condições adequadas para o seu desenvolvimento. A GGT na colheita quatro (novembro), apresentou médias com diferenças significativas (p < 0,05), onde o valor médio encontrado para o grupo braquiária foi de 32,02 ± 11,68 UI/L (variando de 43,82 a 0 UI/L) e para o grupo andropógon foi de 25,77 ± 8,53 UI/L (variando de 42,55 a 12,34 UI/L). A GGT é uma enzima de membrana celular que responde quantitativamente de forma mais lenta do que a AST (DIRKSEN, et al., 1990), caracterizando eventos crônicos. A GGT elevada para os animais do grupo braquiária no mês de novembro pode ser explicada pelo fato de que alguns animais deste grupo foram mais intensamente afetados pela esporodesmina no mês de outubro, sem, no entanto, alterarem o valor médio de AST do grupo, porém, proporcionando elevado desvio-padrão e, finalmente, alterando a média de GGT do grupo no mês de novembro, indicando que sofreram lesão hepática constante.CONCLUSÃO
A falta de manejo adequado de pastagens e o período de início das chuvas (outubro/novembro) é responsável pelo favorecimento da proliferação do Pithomyces chartarum que conduz a lesões hepáticas agudas e crônicas em animais jovens e susceptíveis a esporodesminatoxicose, podendo ser evidenciada pelo aumento das atividades séricas das enzimas AST e GGT nos animais alimentados exclusivamente com capim braquiária.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA