ORIGEM DOS CONÍDOS DE Phaeoisariopsis griseola PARA INICIAR UMA EPIDEMIA

 

Mesquita, G.M.,1 Garcia, R.A.V.G., 2 Sartorato, A.1

1 Embrapa Arroz e Feijão, C. Posta 179, CEP 75375-000, Santo Antônio de Goiás - GO, 2 Universidade Federal de Goiás, Goiânia - GO - sartorat@cnpaf.embrapa.br

PALAVRAS CHAVE: Feijoeiro comum, Phaseolus vulgaris, mancha angular

INTRODUÇÃO

O feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) é uma das leguminosas cultivadas de maior importância no Brasil. A alta incidência de doenças nesta cultura tem sido considerada um dos maiores problemas responsáveis pelo seu baixo rendimento. Entre elas, a mancha angular, cujo agente causal é o fungo Phaeoisariopsis griseola (Sacc.) Ferr., pode ser encontrada em todas as regiões produtoras. Até o final da década de 80 era considerada uma doença pouco importante na cultura pois apresentava uma maior severidade apenas no final do seu ciclo. Hoje, sabe-se que é uma doença que pode causar até 70% de perdas da produção (Brenes, et al., 1983, Sartorato & Rava, 1992) sendo considerada uma das principais.Afeta toda a parte aérea da planta podendo causar a queda prematura das folhas e uma redução na qualidade do grão. O presente trabalho apresentou como objetivo demonstrar que no início de uma epidemia os conídios de Phaeoisariopsis griseola são provenientes de fora da área de cultivo.

MATERIAIS E MÉTODO

O trabalho foi desenvolvido na área experimental, Fazenda Capivara, e laboratórios de Biotecnologia e Fitopatologia da Embrapa Arroz e Feijão, Santo Antônio de Goiás, GO.

O delineamento utilizado foi o de blocos completos casualizados, com três tratamentos (controle, cultivar resistente e cultivar susceptível), e quatro repetições. Como fonte de inóculo, foram utilizadas 3 plantas (plantas fonte), as quais foram transferidas para o centro de cada parcela (exceto na parcela controle) 44 dias após o plantio (DAP), ai permanecendo por sete dias consecutivos. As plantas fonte haviam sido inoculadas em casa de vegetação 15 DAP com uma suspensão do isolado Ig 746 contendo 2 x 104 esporos.mL-1 e antes de serem transferidas para o campo, sofreram um processo de adaptação às condições externas sendo deixadas em área com sombra natural por 3 dias. Ao final deste período, as plantas fontes foram transplantadas para o centro de cada parcela no final da tarde. Três folíolos apresentando sintomas de mancha angular foram coletados de cada parcela aos 57, 64 e 75 DAP, ou seja, 14 dias após o transplante das plantas fonte. A partir destes, foram realizados dois isolamentos monospórico, totalizando 24 isolados de cada tratamento. De cada tratamento foram utilizados apenas 12 isolados monospóricos perfazendo um total de 108 isolados em todo o experimento. Após o crescimento do micélio em meio BD (Batata-Dextrose) por aproximadamente 12 dias à temperatura ambiente, foram extraídos os DNAs utilizando-se o protocolo de Roeder & Broda (1987). Na amplificação dos DNAs pelo método do RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA) foram utilizados os primers OPK 10, OPL 14, OPL 17, OPL 18, OPR 03 e OPR 13. Cada ciclo de amplificação constou de 94oC por 15 segundos, 35 oC por 30 segundos e 72 oC por 60 segundos. Após 40 ciclos, foi realizado mais um passo de extenção de 72 oC por 7 minutos. Cada reação de 25 m L continha 25 ng de DNA, ),1 mM de dNTP, 2,0 mM de MgCl2, 10 mM Tris-HCl, pH 8,3, 50 mM KCl, 0,4 m M de primer e uma unidade de Taq polimerase. Os produtos da amplificação foram corados com brometo de etídio. e visualizados em gel de agarose 1,5%.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos podem ser observados no dendrograma da Figura 1. O fungo P. griseola apresentou grande diversidade genética. A um limite arbitrário de 15% de distância genética relativa, a análise do experimento pode ser subdividida em 3 grupos. Os dois primeiros estão formados por apenas um isolado cada. O terceiro grupo apresenta um total de 106 isolados. Pode-se também observar que o subgrupo que contém o isolado utilizado como controle (Ig 746) apresentou seis outros isolados muito similares a ele, indicando que provavelmente estes isolados originaram-se do isolado Ig 746 ou que no campo experimental haviam alguns isolados muito similar ao isolado controle. O fato da mancha angular ser transmitida pela semente, é pouco relevante neste patosistema, uma vez que a percentagem de transmissão é da ordem de no máximo 2,5%. Os demais isolados, foram divididos em outros subgrupos, indicando uma falta de similaridade entre eles e aqueles que pertencem ao subgrupo do isolado controle. Este fato, indica que a grande maioria dos isolados atingiram as parcelas advindo de outro local que não as plantas fontes.

CONCLUSÃO

A maioria do isolados, de Phaeoisariopsis griseola encontrados na área experimental, difere geneticamente do isolado controle (Ig 746) sugerindo que uma epidemia é iniciada com esporos normalmente advindos de fora da lavoura/área experimental.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRENES, B.M.; CHAVES, G.M.; ZAMBOLIM, L. Estimativas de perdas no rendimento do feijoeiro comum (P. vulgaris L.) causadas pela mancha angular (Isariopsis griseola Sacc.) Fitopatologia Brasileira, v. 8, p. 599. 1983.

SARTORATO, A., RAVA, C.A. Influencia da cultivar e do número de inoculações na severidade da mancha angular (Isariopsis griseola) e nas perdas na produção do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris ). Fitopatologia Brasileira, v.17, p.247-251, 1992.

ROEDER, V. & BRODA, P. Rapid preparation of DNA from filamentous fungi. Letters of Applied Microbiology, v. 1, p. 17-20. 1987.

Figura 1. Dendrograma gerado com base na análise Randon Amplified Polymorphic DNA (RAPD) com fragmentos de 108 isolados do fungo Phaseoisariopsis grisela coletados na Embrapa Arroz e Feijão.