RESPOSTA DO FEIJOEIRO COMUM AO ESTRESSE TÉRMICO APLICADO EM DIFERENTES
ESTÁDIOS FENOLÓGICOS
Termos para indexação: Phaseolus vulgaris, abortamento de
vagens, produção de biomassa.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram conduzidos quatro ensaios com plantas das
cultivares de feijoeiro comum Pérola e Valente, cultivadas em vasos (duas
plantas por vaso), em condições controladas de temperatura, 22/18oC
dia/noite, 12/12 horas, sem deficiência hídrica e de nutrientes, e com controle
preventivo de pragas e doenças. Cada ensaio constitui-se de cinco repetições
para cada cultivar, com e sem a aplicação de estresse térmico, em um desenho
experimental completamente casualizado. O estresse térmico foi aplicado em
câmara de crescimento por 72 horas a 37/25oC dia/noite, 12/12 horas
e umidade relativa de 85%, nos seguintes estádios fenológicos: terceiro
trifólio (V4) - ensaio I; início da floração (R5) - ensaio II; aparecimento da
primeira vagem (R7) - ensaio III e início do enchimento dos grãos (R8) - ensaio
IV. Após o estresse térmico, as plantas foram reconduzidas às condições
anteriores até o estádio R9 (maturação fisiológica). Tanto as plantas que
sofreram estresse térmico quanto as demais, tiveram todas as flores e vagens
que abortaram diariamente contadas até o estádio R9, determinando-se o
percentual de abortamento. Neste estádio, todas as plantas, foram coletadas
para avaliação da massa seca de folhas, ramos, vagens e grãos, bem como o
número de vagens e de grãos. Os grão foram separados em “normais” e
“deformados”, calculando-se o percentual de grãos deformados para cada cultivar
em cada ensaio.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O estresse térmico aplicado nos
diferentes estádios de desenvolvimento nas cultivares de feijoeiro comum Pérola
e Valente, não alterou significativamente o acúmulo de massa de matéria seca
total das plantas, porém as plantas estressadas acumularam maior quantidade de
massa seca vegetativa (folhas e ramos) e menor massa seca de grãos. A menor
quantidade de biomassa seca acumulada nos grãos indica que esses não tiveram
capacidade de redirecionar essa biomassa para seu crescimento e
desenvolvimento, evidenciado pela grande quantidade de grãos “deformados”
produzidos por essas plantas (Figura 1). A redução no tempo de enchimento dos
grãos e, óvulos não fertilizados, explicam a obtenção de sementes menores e
deformadas. O choque térmico provocou defazagem no abortamento de vagens,
antecipando o maior percentual de queda de vagens em relação às plantas
controle, principalmente na cultivar Pérola quando o choque térmico foi
aplicado nos estádios R7 e R8 (Figuras 2 e 3). O abortamento de flores e vagens
pequenas normalmente é alto no feijoeiro (Subhabrabanhu et al., 1978; Silveira
et al., 1980), e ocorre para ajustar o suprimento com a demanda de fotoassimilados
(Binnie & Clifford, 1999; Nakamura, 1986). As primeiras flores ao se
transformarem em vagens, exercem dominância em relação às demais estruturas
reprodutivas, ocasionando o abortamento das flores tardias. Nas plantas que
sofreram o estresse térmico, o abortamento das flores que em situação normal
iriam vingar, provoca a quebra da dominância, estimulando a produção de flores
mais tardias (Fischer & Weaver, 1974). Claramente, o choque térmico
aplicado nos estádios R7 e R8, provocou maior abortamento também das primeiras
vagens que foram produzidas pelas plantas, vagens estas provenientes das
floradas iniciais. Já nas plantas não estressadas, o maior vingamento de vagens
ocorreu a partir da primeira florada, abortando a grande maioria das vagens originadas
das floradas posteriores. Na maturação fisiológica, em ambas as cultivares, o
estresse térmico provocou aumento no número final de vagens por planta, com
menor número de grãos por vagem, principalmente quando aplicado nos estádios
R5, R7 e R8. Esse maior número de vagens nas plantas estressadas, pode ser
explicado pela maior proporção de abortamento das primeiras vagens, fato que
provocou floradas tardias intensas nestas plantas e consequentemente um
vingamento maior de vagens tardias. Assim, com vagens de diferentes idades e
tamanho, se estabelece uma competição por carboidratos e nutrientes vantajosa
para as vagens mais desenvolvidas com maior capacidade de remobilização, em
detrimento das vagens mais jovens. Embora desejável, o maior número de vagens
por planta provocado pelo estresse térmico causou grande desunformidade na
maturação, com sementes normais nas vagens mais velhas e deformadas nas vagens
que se originaram posteriormente, resultando em menor produtividade de grãos
por planta.
CONCLUSÕES
O número de grãos por
vagem e a massa da matéria seca acumulada nos grãos, são parâmetros adequados
para quantificar o efeito da incidência de temperaturas elevadas no feijoeiro
comum.
Os estádios mais críticos à incidência de temperaturas elevadas, nas
cultivares de feijoeiro comum e nas condições testadas, são os compreendidos
entre início da floração e início de formação de vagens.
AGRADECIMENTOS
À Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do estado de Goiás,
programa PROINPE, pelo apoio financeiro.
BINNIE, R.C.; CLIFFORD, P.E. Crop Science, v. 39, p. 1077-1082, 1999.
FISCHER, V.J.; WEAVER, C.K. Journal of the American Society for Horticultural Science, v.99,
p.448-450, 1974.
GONÇALVES, S.L.; WREGE, M.S.; CARAMORI, P.H.; MARIOT,
E.J.; NETO, M.A. Revista Brasileira de
Agrometeorologia, v.5, p.99-107, 1997.
GROSS, Y.; KIGEL, J. Field
Crops Research, v.36, p.201-212, 1994.
MARIOT, E.J. (IAPAR. Circular,
63). Londrina, 1989, p.25-41.
NAKAMURA, R.R. American
Journal Botany, v.73, p.1049-1057, 1986.
SHONNARD, G.C.; GEPTS, P. Crop Science, v.34, p.1168-1175, 1994.
SUBHABRABANDHU, S.; ADAMS, M.W.; REICOSKY, D.A. Crop Science, v.18, p.893-896, 1978.
TABELA 01. Influência do estresse
térmico de 72 horas a 37/25 oC, 12/12 horas, dia/noite, aplicado em
diferentes estádios fenológicos das cultivares de feijoeiro comum Pérola e
Valente, no percentual de grãos deformados (% do total de grãos/planta).
Valores médios de cinco repetições.
Cultivar |
Tratamento |
Estádio fenológico de aplicação do estresse |
|||
|
V4 |
R5 |
R7 |
R8 |
|
Pérola |
Com estresse |
43,5 |
39,4 |
37,7 |
29,6 |
Sem estresse |
31,3 |
8,0 |
13,8 |
12,0 |
|
Valente |
Com estresse |
35,2 |
65,0 |
19,4 |
40,1 |
Sem estresse |
22,0 |
15,9 |
8,2 |
11,3 |
Figura 1. Influência do estresse
térmico de 72 horas a 37/25oC, 12/12 horas, dia/noite, aplicado em
diferentes estádios fenológicos das cultivares de feijoeiro comum Pérola e
Valente, no percentual de abortamento de vargens.