RESPOSTA DO FEIJOEIRO COMUM AO ESTRESSE TÉRMICO APLICADO EM DIFERENTES ESTÁDIOS FENOLÓGICOS

 

Agostinho Dirceu Didonet1 e Tiago Barbosa Vitória2. 1Pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, Caixa Postal 179, Sto. Antônio de Goiás, GO, CEP 75375-000, email: didonet@cnpaf.embrapa.br; 2Bolsista IC/Embrapa Arroz e Feijão, Rua 70, 589, apt 704, Edifício Cristina Maris, Setor Central, Goiânia, GO, email: tbvitoria@yahoo.com.br

 

Termos para indexação: Phaseolus vulgaris, abortamento de vagens, produção de biomassa.

 

INTRODUÇÃO

O cultivo do feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) em regiões tropicais faz com que as plantas estejam sujeitas a incidência de altas temperaturas pelo menos em algum estádio fenológico do desenvolvimento. Redução de ciclo, aumento na atividade respiratória, redução na taxa de assimilação de gás carbônico, aumento de biomassa e redução na produtividade de grãos, são alguns efeitos em feijoeiro comum cultivado em áreas propensas a altas temperaturas. Quando altas temperaturas incidem no período de formação da gema floral e início do enchimento da vagem, ocorrem danos severos à produtividade do feijoeiro (Shonnard & Gepts, 1994). Gross & Kigel, 1994). No feijoeiro comum, temperaturas diurnas acima de 30oC e noturnas superiores a 20oC, provocam abortamento de órgãos reprodutivos, principalmente flores e vagens em formação (Mariot, 1989), recomendando-se o plantio em épocas que a floração ocorra em temperaturas não superiores a 30oC (Gonçalves et al., 1997). No entanto, a crescente expansão do cultivo do feijoeiro em áreas cada vez mais próximas aos trópicos, além de cultivos altamente tecnificados sob irrigação em época de seca na região central do Brasil, indicam que esses limites de temperatura podem ser superados.

 

OBJETIVO

Definir os períodos fenológicos mais críticos em relação a perdas potenciais de produtividade, além de quantificar e estabelecer parâmetros para auxiliar no manejo do cultivo do feijoeiro comum sob condições de temperaturas elevadas.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Foram conduzidos quatro ensaios com plantas das cultivares de feijoeiro comum Pérola e Valente, cultivadas em vasos (duas plantas por vaso), em condições controladas de temperatura, 22/18oC dia/noite, 12/12 horas, sem deficiência hídrica e de nutrientes, e com controle preventivo de pragas e doenças. Cada ensaio constitui-se de cinco repetições para cada cultivar, com e sem a aplicação de estresse térmico, em um desenho experimental completamente casualizado. O estresse térmico foi aplicado em câmara de crescimento por 72 horas a 37/25oC dia/noite, 12/12 horas e umidade relativa de 85%, nos seguintes estádios fenológicos: terceiro trifólio (V4) - ensaio I; início da floração (R5) - ensaio II; aparecimento da primeira vagem (R7) - ensaio III e início do enchimento dos grãos (R8) - ensaio IV. Após o estresse térmico, as plantas foram reconduzidas às condições anteriores até o estádio R9 (maturação fisiológica). Tanto as plantas que sofreram estresse térmico quanto as demais, tiveram todas as flores e vagens que abortaram diariamente contadas até o estádio R9, determinando-se o percentual de abortamento. Neste estádio, todas as plantas, foram coletadas para avaliação da massa seca de folhas, ramos, vagens e grãos, bem como o número de vagens e de grãos. Os grão foram separados em “normais” e “deformados”, calculando-se o percentual de grãos deformados para cada cultivar em cada ensaio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estresse térmico aplicado nos diferentes estádios de desenvolvimento nas cultivares de feijoeiro comum Pérola e Valente, não alterou significativamente o acúmulo de massa de matéria seca total das plantas, porém as plantas estressadas acumularam maior quantidade de massa seca vegetativa (folhas e ramos) e menor massa seca de grãos. A menor quantidade de biomassa seca acumulada nos grãos indica que esses não tiveram capacidade de redirecionar essa biomassa para seu crescimento e desenvolvimento, evidenciado pela grande quantidade de grãos “deformados” produzidos por essas plantas (Figura 1). A redução no tempo de enchimento dos grãos e, óvulos não fertilizados, explicam a obtenção de sementes menores e deformadas. O choque térmico provocou defazagem no abortamento de vagens, antecipando o maior percentual de queda de vagens em relação às plantas controle, principalmente na cultivar Pérola quando o choque térmico foi aplicado nos estádios R7 e R8 (Figuras 2 e 3). O abortamento de flores e vagens pequenas normalmente é alto no feijoeiro (Subhabrabanhu et al., 1978; Silveira et al., 1980), e ocorre para ajustar o suprimento com a demanda de fotoassimilados (Binnie & Clifford, 1999; Nakamura, 1986). As primeiras flores ao se transformarem em vagens, exercem dominância em relação às demais estruturas reprodutivas, ocasionando o abortamento das flores tardias. Nas plantas que sofreram o estresse térmico, o abortamento das flores que em situação normal iriam vingar, provoca a quebra da dominância, estimulando a produção de flores mais tardias (Fischer & Weaver, 1974). Claramente, o choque térmico aplicado nos estádios R7 e R8, provocou maior abortamento também das primeiras vagens que foram produzidas pelas plantas, vagens estas provenientes das floradas iniciais. Já nas plantas não estressadas, o maior vingamento de vagens ocorreu a partir da primeira florada, abortando a grande maioria das vagens originadas das floradas posteriores. Na maturação fisiológica, em ambas as cultivares, o estresse térmico provocou aumento no número final de vagens por planta, com menor número de grãos por vagem, principalmente quando aplicado nos estádios R5, R7 e R8. Esse maior número de vagens nas plantas estressadas, pode ser explicado pela maior proporção de abortamento das primeiras vagens, fato que provocou floradas tardias intensas nestas plantas e consequentemente um vingamento maior de vagens tardias. Assim, com vagens de diferentes idades e tamanho, se estabelece uma competição por carboidratos e nutrientes vantajosa para as vagens mais desenvolvidas com maior capacidade de remobilização, em detrimento das vagens mais jovens. Embora desejável, o maior número de vagens por planta provocado pelo estresse térmico causou grande desunformidade na maturação, com sementes normais nas vagens mais velhas e deformadas nas vagens que se originaram posteriormente, resultando em menor produtividade de grãos por planta.

 

CONCLUSÕES

O número de grãos por vagem e a massa da matéria seca acumulada nos grãos, são parâmetros adequados para quantificar o efeito da incidência de temperaturas elevadas no feijoeiro comum.

Os estádios mais críticos à incidência de temperaturas elevadas, nas cultivares de feijoeiro comum e nas condições testadas, são os compreendidos entre início da floração e início de formação de vagens.

 

AGRADECIMENTOS

À Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do estado de Goiás, programa PROINPE, pelo apoio financeiro.

 

REFERÊNCIAS

BINNIE, R.C.; CLIFFORD, P.E. Crop Science, v. 39, p. 1077-1082, 1999.

FISCHER, V.J.; WEAVER, C.K. Journal of the American Society for Horticultural Science, v.99, p.448-450, 1974.

GONÇALVES, S.L.; WREGE, M.S.; CARAMORI, P.H.; MARIOT, E.J.; NETO, M.A. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.5, p.99-107, 1997.

GROSS, Y.; KIGEL, J. Field Crops Research, v.36, p.201-212, 1994.

MARIOT, E.J. (IAPAR. Circular, 63). Londrina, 1989, p.25-41.

NAKAMURA, R.R. American Journal Botany, v.73, p.1049-1057, 1986.

SHONNARD, G.C.; GEPTS, P. Crop Science, v.34, p.1168-1175, 1994.

SUBHABRABANDHU, S.; ADAMS, M.W.; REICOSKY, D.A. Crop Science, v.18, p.893-896, 1978.

 

TABELA 01. Influência do estresse térmico de 72 horas a 37/25 oC, 12/12 horas, dia/noite, aplicado em diferentes estádios fenológicos das cultivares de feijoeiro comum Pérola e Valente, no percentual de grãos deformados (% do total de grãos/planta). Valores médios de cinco repetições.

Cultivar

Tratamento

Estádio fenológico de aplicação do estresse

 

V4

R5

R7

R8

Pérola

Com estresse

43,5

39,4

37,7

29,6

Sem estresse

31,3

8,0

13,8

12,0

Valente

Com estresse

35,2

65,0

19,4

40,1

Sem estresse

22,0

15,9

8,2

11,3

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 1. Influência do estresse térmico de 72 horas a 37/25oC, 12/12 horas, dia/noite, aplicado em diferentes estádios fenológicos das cultivares de feijoeiro comum Pérola e Valente, no percentual de abortamento de vargens.